quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A educação na primeira infância, qual sua importância?



Muitas pesquisas apontam a educação infantil como estratégia de combate à pobreza e de promoção da equidade. Foi publicado na edição de julho/2013 na revista EXAME[1] um artigo sobre “o investimento em educação na primeira infância é a chave para ter uma população mais qualificada” quanto antes melhor. James Heckman[2], da Universidade de Chicago, estudou as consequências de um programa especial de educação para crianças pobres da década de 60 no estado de Michigan. Após 40 anos os resultados foram bons. A maior parte de crianças que participaram do programa, concluíram o ensino médio e obtiveram salários melhores do que as crianças que não participaram do programa.
Em nosso país, infelizmente, o status social ainda é determinante sobre o futuro dos nossos filhos. Por ter uma educação melhor, os filhos dos mais ricos ficam com os melhores empregos. Os filhos dos pobres acabam, na melhor das hipóteses, brigando pelos empregos que sobram. A desigualdade é tão injusta que existe um desperdício enorme de talentos de parte da população, pessoas que poderiam estar produzindo muito mais. O problema concentra-se na falta de “oportunidades”. No Brasil o filho de um médico, advogado, engenheiro tem 12 vezes mais chances de ser médico, advogado, engenheiro e administrador do que o filho da empregada doméstica[3].
O foco deve estar na primeira infância. Como vimos anteriormente, James Heckman mostra que a melhor arma contra a desigualdade social é investir em crianças já nos três primeiros anos de idade, período crucial para melhorar as habilidades cognitivas e socioemocionais. Crianças que frequentaram o equivalente a creches (0 a 3 anos de idade) e pré-escolas (4 a 6 anos de idade) apresentaram na idade adulta renda mais alta e probabilidades mais baixas de prisão, de gravidez precoce e de depender de programas de transferência de renda do governo no futuro. Para ele, a educação na primeira infância constitui provavelmente o melhor investimento social existente e quanto mais baixa for a idade do investimento educacional recebido mais alto é o retorno recebido pelo indivíduo e pela sociedade[4].
Para Dobson (1999) existe um período crítico durante os três primeiros anos de vida de uma criança que é quando o potencial para crescimento intelectual precisa ser aproveitado. Há sistemas de enzimas no cérebro que precisam ser ativados durante este período[5].
Infelizmente estudos realizados no âmbito da psicologia provenientes principalmente de países como Estados Unidos e Inglaterra consideravam a separação ou privação da criança do convívio diário e constante com a mãe como responsável por danos severos no desenvolvimento infantil[6]. Estes são alguns fatores que contribuem negativamente na oferta ao atendimento educacional às crianças pequenas, pois a sociedade passa a enxergar as instituições de educação infantil como paliativas: um mal necessário, quando deveria ser um direito social.
Muitas pessoas atribuem o problema da desigualdade ao sistema econômico capitalista. A meu ver, o problema não está no capitalismo, e sim em quem está por trás dele, o homem. O capitalismo é sim, a mais eficiente invenção humana para se gerar riquezas, porém, ela tem se desenvolvido de forma incompleta, tem se desprovido da metade humana (Mackey)[7]. Umas das questões-chave do processo econômico é a justiça distributiva conforme afirma Rossetti: a plena igualdade é, por uns, vista como objetivo distributivo inquestionável. Embora os ideais da perfeita igualdade ou da construção de uma sociedade sem classes econômicas encontrem atraentes apelos éticos, ela pode desestimular o esforço individual e acarretar o rebaixamento dos níveis de produção. Isso, a longo prazo, poderia convergir para generalizado estado de empobrecimento[8]. Portando a justiça distributiva implica equidade na distribuição do produto social, ou seja, das oportunidades de acesso à educação para se manter um padrão mínimo de qualidade de aprendizagem. Equidade e igualdade não podem ser compreendidas como sinônimas. A equidade se fundamenta na ideia de igualdade de oportunidades, na necessidade de haver condições iguais de acesso às oportunidades de realização socioeconômica para todos os membros de uma comunidade política para se alcançar a justiça social (COSTA; KERSTENETZKY, 2005).
A educação na primeira infância deve ser reivindicada por nós cidadãos como um direito social e não como um programa compensatório que estabelece regras como renda familiar, raça e etc.
Quando o Senhor falou ao seu servo Moises no monte Sinai ele estabeleceu certas regras de como devemos nos portar diante dele e diante do nosso próximo. O sexto mandamento diz: “Não matarás” (Êx 20:13). O senso comum dos homens é entender que devemos nos abster de todo desejo de matar ou de causar dano ao nosso semelhante. Porém, é preciso mais do que isso, devemos ajudar a manter a vida do nosso próximo por todos os meios que nos forem possíveis[9]. Devemos fazer o possível para conservar a vida do nosso próximo evitando e impedindo tudo que possa vir a lhe prejudicar. A palavra do Senhor nos ensina que mesmo que não venhamos a matar alguém, mas em nosso coração reina o ódio e a ira pelo nosso próximo nos tornamos assassinos (1 Jo 3:15). A Reforma Protestante ocorrida no século XVI não foi somente um movimente espiritual e eclesiástico, mas teve também aspectos e dimensões políticas e sociais. Na visão do reformador João Calvino a responsabilidade social da igreja é resumida em três aspectos fundamentais: ministério didático, político e social. A igreja em sua missão política deveria orientar o Estado através de sermões e orientação individual quanto ao ensino bíblico sobre a administração dos bens outorgados por Deus ao Estado e ao indivíduo (Lv 25). A igreja deveria, quando necessário, advertir as autoridades quando tolerassem injustiças contra os pobres, quando os ricos viessem a explorar os pobres, pois caso contrário, ela se tornaria cúmplice da injustiça social, cessando de cumprir sua missão política. Sob sua influência, nasceu a primeira escola primária obrigatória da Europa.
Jesus nos ensinou que os preceitos mais importantes da Lei são: a justiça, a misericórdia e a fé! (Mt 23:23). A obra redentora de Cristo não se limita apenas a nova vida dada ao indivíduo, mas abrange a restauração de todo universo, o que inclui a ordem social e econômica. Esta obra só será completa quando Cristo voltar.
Existe um grupo de pessoas que Deus sempre se preocupou e ainda tem se preocupado, este grupo vem sendo facilmente explorado pelos governantes, líderes religiosos, empresários e etc. A viúva, o órfão, o estrangeiro, e o pobre tinham e ainda tem um amor especial de Deus por eles. O Senhor disse através do profeta Zacarias: “Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão; não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo” (Zc 7:9,10).
Conclusão: Este artigo tem a finalidade de mostrar para você, leitor, que existe um grupo de pessoas que está sendo esquecida, e que o Senhor quer que executemos um juízo verdadeiro, mostrando bondade e misericórdia aos nossos irmãos, fazendo o que for possível para conservar a vida do nosso próximo evitando e impedindo tudo que possa vir a lhe prejudicar. Deus não está preocupado com o resultado dos nossos esforços, pois o resultado não é mais o importante (Mt 7:21-23; Lc 13:26,27). Nossa disposição deve ser a de servir fielmente a Deus onde quer que ele nos coloque. Os limites da participação cristã na cultura devem ser de acordo com os padrões estabelecidos por Deus em sua palavra, principalmente com a situação de um cristão que ocupa um cargo público. Se o capitalismo tem sido injusto com a humanidade e a desigualdade social vem avançando, é porque nosso coração não tem servido fielmente a Deus por não conhecer sua vontade e seus preceitos. Ser cristão não tem nada a ver com o que está sendo ensinado hoje. Precisamos nos preparar, e por isso nossa missão é proporcionar através da educação cristã, oportunidades pelas quais a comunidade adquira o conhecimento de Deus para o fortalecimento da família, igreja e sociedade, desde a primeira infância.



[1] EXAME. São Paulo: Editora Abril, n. 13, p. 52, jul. 2013.
[2] James Heckman, Nobel de Economia (2000).
[3] EXAME. São Paulo: Editora Abril, n. 11, p. 39, jul. 2014.
[4] FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Pesquisa Educação da Primeira Infância. Disponível em: http://cps.fgv.br/edu_infancia. Acesso em: 14 de jul. 2014.
[5] DOBSON, James. Ouse disciplinar. São Paulo: Vida, p.157, 1999.
[6] CAMPOS, S. As indicações dos organismos internacionais para as políticas nacionais de educação infantil: do direito à focalização. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol.39, no.01, mar. 2013
[7] John Mackey: fundador e presidente da rede de supermercados americana Whole Foods. Criador do movimento Capitalismo Consciente.
[8] ROSSETTI, José Paschoal. Introdução a Economia. São Paulo: Atlas, p.194, 2014.
[9] CALVINO, João. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, I, p. 170, 2006.



terça-feira, 9 de setembro de 2014

O Quarto Mandamento





“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20:8-11)

Caro leitor, vimos no estudo anterior, o terceiro mandamento, como podemos santificar o nome santo do Senhor, e neste mandamento veremos que quando renunciamos à nossa própria vontade, é o Senhor que nos santifica. A finalidade deste preceito é mostrar que precisamos estar mortos para nossas paixões e todas nossas obras (1 Co 15:31, Cl 3:5), para que possamos meditar no que é mais importante - o reino de Deus, aprendendo a exercer todas as nossas atividades em conformidade com a sua Palavra. Precisamos repousar totalmente para que Deus trabalhe em nós (Êx 31:13-16; Ez 20:12).
Este mandamento tem algo particular que se distingue dos outros. Como vimos no primeiro estudo publicado no mês de abril as leis civil e cerimonial foram abolidas em Cristo. Somente o aspecto moral é valido em nossos dias. A palavra sabbath significa “descanso”. Desde a criação do mundo em Gênesis 2:1-3 Deus estabeleceu um dia de descanso onde as atenções deveriam ser direcionadas somente para Ele, e não somente isso, mas para dar alívio aos trabalhadores e os animais. O Senhor quis com este mandamento figurar para o povo de Israel o repouso espiritual, ou seja, deviam descansar de suas obras a fim de deixar Deus trabalhar neles. Como foi dito, este elemento cerimonial foi abolido pelo advento de Cristo, por isso o apóstolo Paulo diz que o sábado “é sombra das coisas que haviam de vir” e que “o corpo é de Cristo” (Cl 2:17). Cristo é o verdadeiro cumprimento do sábado, isso quer dizer que todo aqueles atos cerimoniais e rituais eram sombras (Hb 10:1, 8:5,6) daquilo que havia de vir, o corpo de Cristo faz com que as sombras se dissipam, e a sua presença faz com que todas as figuras se desapareçam, pois ele é a verdade. Desde o princípio do mundo até a ressureição de Cristo, esse dia foi o último dia da semana, desde a ressureição de Cristo, foi mudado para o primeiro dia da semana, e que na Escritura é chamado de Dia do Senhor, o domingo (Ap 1:10, 1 Co 16:2, At 20:7; CFW 21:7).
Aqueles que ainda continuam a viver segundo os moldes judaicos, como guardar o sábado, estão regredindo da graça para escravidão da lei. O legalismo é uma forma de escravidão. “Para liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5:1). Por que voltar as sombras se temos a realidade de Jesus Cristo?
O profeta Isaías chegou advertir o povo judeu a não profanar este dia cuidando dos seus próprios interesses, não pretendendo fazer sua própria vontade mas tendo prazer em buscar a vontade do Senhor (Is 58:13-14), esta é a mensagem, o aspecto moral, válido para os nossos dias.
Conclusão: Devemos renunciar e eliminar toda a cobiça da nossa carne, precisamos parar com tudo o que procede do nosso entendimento, para que Deus trabalhe em nossos corações e estejamos em harmonia com ele. “Essa realidade não se satisfaz apenas com um dia, mas exige toda a duração da nossa vida, até que, estando nós totalmente mortos para o pecado, haja em nós a plenitude da verdade de Deus” (CALVINO, As Institutas, I, p. 194, 2006). O homem é incapaz de tornar-se justo por seus próprios esforços, e estar sob a lei é ter somente uma aparência de espiritualidade, porém o coração se torna cada vez mais orgulhoso e egocêntrico. É hora de repousar em Cristo e deixar que ele trabalhe em nós!

Os heróis se vão e nós também - Juízes 16

Alguém disse que um dia especialmente importante para um filho é aquele no qual ele se dá conta de que seus pais pecam. Da mesma forma com...