terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Evangelismo de Pais & Filhos: Como conciliar vida familiar, trabalho e ministério



Período Colonial X Revolução Industrial[1]

Antes da Revolução Industrial, no período colonial as famílias viviam de maneira muito semelhante ao modo como viveram por milênios nas sociedades tradicionais. O trabalho era feito em casa, por famílias. Lojas, oficinas, escritórios ficavam na frente da casa, enquanto a família morava em cima ou nos fundos. Cada negócio era um empreendimento familiar. Casamento “significava” tornar colega de trabalho do marido. Mães combinavam trabalho economicamente produtivo com a criação de filhos. Os pais também estavam muito mais envolvidos na criação dos filhos que hoje.
No período colonial o marido e pai era considerado o cabeça do lar. Maridos e pais não deviam ser dirigidos por ambição pessoal ou egoísmo, mas tinham de assumir a responsabilidade pelo bem comum da casa inteira. O pai desfrutava a mesma integração de trabalho e responsabilidades de criar os filhos que a mãe. O pai era uma presença visível, ano após ano, dia após dia, enquanto treinavam os filhos para trabalhar ao lado dele. Ser pai não era atividade separada que tinha de voltar para casa depois de um dia no trabalho.
Registros históricos mostram que a literatura colonial sobre cuidados paternais e maternais como sermões e manuais de criação de filhos não era direcionado à mãe, como a maioria hoje. Era direcionada tipicamente para o pai. O homem era reputado como o pai primário e particularmente importante na educação religiosa e intelectual dos filhos.
Todos comiam e oravam juntos, eles se levantavam e iam dormir no mesmo horário. Os homens se sentiam tão à vontade na cozinha quanto as mulheres. Os livros de receitas e os de gestão doméstica eram dirigidos principalmente para eles. Embora a vida colonial fosse de trabalho opressivo e árduo, as famílias se beneficiavam da integração de vida e trabalho, algo extremamente raro em nossa época.
Com a Revolução Industrial tudo isso mudou, pois o principal impacto foi levar o trabalho para fora de casa. No período colonial as relações eram pessoais entre o fazendeiro, o seus filhos e trabalhadores contratados. Na Revolução Industrial, a relação passou a ser interpessoal fundamentada em salário.
Os homens não tiveram escolha senão acompanhar o trabalho fora das casas e campos, e entrar em fábricas e escritórios. A presença física dos homens em casa caiu drasticamente. Os pais já não passavam bastante tempo com os filhos para educá-los e impor disciplina regular. Depois da Revolução Industrial a casa passou a ser um local de consumo ao invés de produção.
As mulheres ficaram socialmente isoladas com crianças pequenas o dia todo. O papel das mães na criação dos filhos ficou mais saliente do que fora no passado. Criar filhos se tornou responsabilidade quase exclusiva da mãe. A liderança moral e espiritual não era mais vista como atributo masculino. Agora se tornou trabalho das mulheres.
Os homens perderam contato íntimo que desfrutavam com os filhos ao longo do dia e, por seguinte, não atuaram mais como pai e professor primário dos filhos.
As mulheres perderam o contato fácil com o mundo dos adultos, aos mesmo tempo que a responsabilidade dos filhos aumentou.

Os prejuízos causados na família pelo movimento feminista[2]

O movimento feminista no início da década de 50 reivindicava dar a mulher o direito de votar, de ter o mesmo salário que o homem e acesso à educação. Até aí todos nós concordamos que o movimento buscava direitos fundamentais que todo ser humano deve ter. O problema é que o movimento não parou por aí. O movimento começou a olhar o mundo numa perspectiva feminina, e começou a questionar a igreja e a sociedade por causa do sistema patriarcal e acusa-las de machista. Esse movimento criticava o papel do homem como cabeça do lar.
Simone deBeauvoir escreveu um livro chamado Le Deuxième Sexe (O Segundo Sexo), em 1949, onde defende que na cultura em que nós vivemos a mulher é definida pelo homem é o homem quem define o papel da mulher. Ela diz que a mulher é quem tem que se definir, o movimento de lesbianismo intelectual nasce com essa teoria, pois a mulher se defini a partir de outra mulher e não do homem. O conceito de ideologia de gênero da origem a sessenta possibilidades de sexualidade, e provém do movimento feminista.

Vida familiar X Carreira (Igualdade de Gênero)[3]


A Universidade de Chicago fez estudos entre 1990 a 2006 sobre o mundo dos negócios. A pesquisa mostra que logo após terminar o MBA e voltar ao mercado de trabalho, homens e mulheres ganham a mesma coisa. Mas entre o 16º ano de carreira os homens já estão ganhando quase o dobro. O fator mais importante para explicar a diferença salarial não é o preconceito nem a experiência dos profissionais antes de entrar na escola de negócios, embora eles existam. O que mais contou para desvalorizar as mulheres foram as interrupções ao longo da carreira e a quantidade de horas trabalhadas inferior ao dos homens. Em várias partes do mundo, a maternidade é o ponto de reflexão na carreira das executivas. “Muitas mulheres não conseguem conciliar a vida familiar e a carreira”, diz Fernando Mantovani, diretor da consultoria de recrutamento americana Robert Half no mercado brasileiro.
Um grande número de mulheres tem optado em passar mais tempo com os filhos do que continuar pisando fundo no trabalho. No Brasil, cerca de 40% das mulheres em cargos de gestão pedem demissão depois que têm filhos. Outras não chegam a abandonar o emprego, mas ficam menos propensas a aceitar cargos que exijam longas jornadas. As que optam por continuar acelerando a carreira, e ao mesmo tempo criar crianças pequenas partem para a “terceirização”. Contratam vários funcionários para dar conta do lar, como babá e empregadas domésticas (Fonte: Revista Exame, Edição 1091, 10.06.2015).

Reconstituindo o Lar

As pessoas, principalmente os cristãos precisam desafiar o padrão de “operário ideal” em nossa cultura corporativa. Este empregado é aquele que está disponível para trabalhar em tempo integral sem permitir que a vida pessoal e familiar interfira. São muitos os pais que abrem mão de suas vidas pessoais e familiares para se dedicarem exclusivamente ao seu plano de carreira, almejando status social. Muitos justificam o trabalho excessivo dizendo querer dar o conforto que não tiveram em sua infância para seus filhos.
Esse padrão de operário ideal é prejudicial as famílias, e a igreja deveria estar atenta a isso.  Os pais hoje devem procurar alternativas práticas para reintegrar as responsabilidades familiares com trabalho rendoso por meio de opções como trabalho em casa, empregos de meio período e flexibilização de horas no trabalho.
Em relação as famílias pobres, e mães solteiras que não tem outra escolha se não trabalhar é preciso que o Estado, comece a pensar nessas famílias e passe a desenvolver planos e projetos para que famílias possam se beneficiar com medidas que permitam conciliar trabalho com a criação de filhos. Penso que a Igreja deve ser a principal interessada em acionar o Estado neste assunto e levar estes problemas ao conhecimento de nossos governantes. Nos EUA existe um Projeto de Auto-Emprego das Mulher em Chicago direcionado as mulheres pobres, a maioria são mães solteiras, para criação de microempresas em casa.
As mulheres não devem presumir que emprego pago é a única coisa que dá a elas um senso de dignidade.

O ministério com a nossa família deve estar em primeiro lugar e não a igreja[4]

O Dia do Senhor: Peça aos filhos que tomem nota do sermão, para que ao voltar do culto, cada um possa compartilhar o que aprendeu durante o almoço de domingo, cada um possa compartilhar o que aprendeu e discutir o conteúdo e a aplicação com a família.
A Refeição em família: Ensine seus filhos a orar no momento da refeição. Espere todos se sentarem para comerem juntos, essa é uma boa oportunidade para lidar com a ansiedade. O momento da refeição diz muito sobre uma família. No passado, as famílias protestantes faziam das refeições da noite o tempo para breve oração e memorização do catecismo.
O Culto doméstico: crie o hábito de fazer culto doméstico durante os dias da semana. Comece com uma oração, cante algumas canções, leia e medite um pouco sobre um texto bíblico e depois ore para encerrar.
Leitura com os filhos: Faça questão de ler para os seus filhos desde a mais tenra idade. Os estudos mostram que crianças cujos pais leem para elas, até mesmo antes que elas entendam as palavras, ao crescer terão o hábito da leitura e aprenderão com mais facilidade. Através de anos de pesquisa, o psicólogo de família John Rosemond juntou inúmeras razões pelas quais deve-se desligar a televisão. Até mesmo os programas projetados para educar são antieducativos, pois se trata de um divertimento passivo. Ele atribui muito do Déficit de Deficiência de Atenção ao encurtamento da capacidade de atenção que vem do excesso de divertimentos. Para a psicóloga Jane Healy, autora de Endangered Minds: Why our Children Don’t Think ( Mentes em Perigo: por que nosso filhos não pensam) as crianças não deveriam poder assistir televisão até que estejam completamente alfabetizadas (por volta dos 8 anos de idade).

Os conflitos são oportunidades de glorificar a Deus[5]

Existe um grande número de pastores que estão abandonando o ministério pastoral hoje por motivos de conflitos em suas famílias.
Não importa o que se escolha fazer, em todo caso devemos colocar a nossa família em primeiro lugar. Se depois dessas rotinas, se houver tempo para estudos bíblicos e serviço voluntário na igreja, melhor. Porém, muitas famílias se envolvem demais com as atividades da igreja, com os filhos em reuniões juvenis e de adolescentes, e os pais em grupos separados, que sobra pouco tempo para a família estar junta. O caso da criança que aos poucos foi tornando-se agnóstica porque o seu pai estava sempre envolvido com o “ministério” e sua mãe com o trabalho feminino, se multiplica por demais em nossos dias. É hora de recuperarmos a convicção de que o nosso ministério mais importante é para com nossa própria família.
Depender de Deus é confiar naquilo que Ele tem para mim, e não naquilo que eu quero ter. Deus pode não ter suprido todos os meus desejos, mas tem suprido todas as minhas necessidades.

A importância de se investir na primeira infância

O economista James Heckman (Nobel de Economia – 2000) mostra que a melhor arma contra a desigualdade social é investir em crianças já nos três primeiros anos de idade, período crucial para melhorar as habilidades cognitivas e socioemocionais. Crianças que frequentaram o equivalente a creches (0 a 3 anos de idade) e pré-escolas (4 a 6 anos de idade) apresentaram na idade adulta renda mais alta e probabilidades mais baixas de prisão, de gravidez precoce e de depender de programas de transferência de renda do governo no futuro. Para ele, a educação na primeira infância constitui provavelmente o melhor investimento social existente e quanto mais baixa for a idade do investimento educacional recebido mais alto é o retorno recebido pelo indivíduo e pela sociedade.[6]
O escritor e Psicólogo cristão, James Dobson, autor do livro “Ouse Disciplinar” explica que existe um período crítico durante os três primeiros anos de vida de uma criança que é quando o potencial para crescimento intelectual precisa ser aproveitado. Há sistemas de enzimas no cérebro que precisam ser ativados durante este período.[7]

A visão da Reforma Protestante na Educação

O lar é uma pequena igreja” como disse Lutero. Um “pequeno seminário”, onde os filhos sabem pelo menos o suficiente sobre o que creem para distingui-los do mundo descrente. Martinho Lutero persuadiu o governo a proclamar a educação universal compulsória tanto para meninas como para meninos pela primeira vez na história ocidental. Ele criou um sistema de educação pública na Alemanha.

Desde que é necessário preparar as gerações futuras de não deixar a igreja num deserto para os nossos filhos, é imperativo que se estabeleça uma instituição de ensino para se instruir os filhos e prepara-los tanto para o ministério como para o governo civil” (Calvino – Ordenanças 1541).
Em 1536 Calvino apresentou um plano ao conselho municipal de Genebra que incluía uma escola para todas as crianças, na qual as crianças pobres teriam ensino gratuito. Era a primeira escola primária obrigatória da Europa. Em uma delas as meninas eram incluídas junto com os meninos
João Comenius foi um reformador polonês que procurou integrar a sua visão reformada do mundo com a visão da educação pública universal. Ele é visto por muitos como sendo o pai da educação moderna.


John Knox, reformador escocês, em 1560, exigiu um sistema nacional de educação pública para a Escócia. Antigos mosteiros foram transformados em bibliotecas e escolas. “Não foi por acidente que a alfabetização universal foi atingida na Escócia e em diversos estados protestantes na Alemanha” (Lewis Spitz).


[1] PEARCEY, N. Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo do seu Cativeiro Cultural. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD,2006.
[2] Ibid.
[3] EXAME. São Paulo: Editora Abril. ed 1091. jun. 2015.
[4] HORTON, M. S. O cristão e a cultura. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
[5] JONES, Robert D. Em busca da paz: Princípios Bíblicos para lidar com conflitos e restaurar relacionamento quebrados. São Paulo, Nutra, 2015
[6] FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Pesquisa Educação da Primeira Infância. Disponível em: http://cps.fgv.br/edu_infancia. Acesso em: 14 de jul. 2014.
[7] DOBSON, James. Ouse disciplinar. São Paulo: Vida, p.157, 1999.

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