domingo, 24 de abril de 2016

É razoável essa tua ira? Você tem alguma razão para essa fúria?: As atitudes de motivação do coração de Jonas que revelaram a raiz de sua ira - Jonas 4:1-11

Sempre que mencionamos o nome do Profeta Jonas logo vem em nossa mente o episódio de um homem sendo lançado ao mar e logo em seguida engolido por um grande peixe por causa da sua desobediência a uma ordem de Deus.

Jonas recebeu uma ordem de ir até a cidade de Nínive para adverti-la sobre o julgamento de Deus. Nínive era capital da Assíria, o Império que, em 721 a.C., destruiu o reino do Norte (Israel) e enviou para o exílio muitos Israelitas. Quando o livro de Jonas foi redigido, essa cidade era símbolo de crueldade, de violência e de hostilidade contra o povo de Deus. A Assíria era o inimigo que mais ameaçava o povo de Israel antes da grande Babilônia e Deus ordenou ao seu profeta que desse à cidade de Nínive a oportunidade de se arrepender, e graças a sua mensagem eles se arrependeram, porém, o arrependimento daquele povo não foi uma boa notícia para o profeta, ao contrário, trouxe para ele mais tristeza e ódio. Um século e meio depois de Deus ter enviado o profeta Jonas a Nínive, as gerações seguintes voltaram aos antigos costumes pagãos, e Nínive foi destruída em 612 a.C. Um

Embora Jonas tenha desobedecido a Deus, o Senhor foi longânimo com ele e lhe concedeu uma segunda chance para servi-lo. Se este livro terminasse no último versículo do capítulo 3, teríamos a história de um grande profeta que motivou milhares de pessoas ao arrependimento e a voltar para Deus. Que grande realização! Qual missionário não gostaria de ter tido esta experiência, de ver toda a cidade para onde ele foi enviado se converter ao Deus vivo? Jonas teve este grande privilégio, porém, no último capítulo deste livro, Jonas revela que não fez isso pelas motivações certas. Deus enxergou em seu coração um ódio por aqueles a quem ele foi enviado.

Deus revelou exatamente o motivo da desobediência de Jonas aos seus olhos. Suas motivações, pensamentos e intenções foram trazidas a luz, revelando o ódio em seu coração pelas pessoas que ele deveria ter amado. Jonas se tornou como o irmão mais velho do filho pródigo: crítico, egoísta, infeliz e irado.

 

1. UM MISSIONÁRIO QUE OROU COM RAIVA E ÓDIO – 4:1-4

 A ira diz: “Você está errado, eu estou certo”. A ira é um disfarce para o medo, e o maior medo de Jonas era que Deus concedesse o perdão ao inimigo mais odiado de Israel antes da Babilônia. A ira é a maneira que muitas pessoas lidam com o medo para poder obter o controle sobre as pessoas e circunstâncias.

Certa vez o Pastor Mauro Meister publicou o seguinte texto: “Quer conhecer o coração de um crente e sua teologia? Peça que ore e ouça com atenção. Ali pode estar um mero discurso, uma espécie de reza, preparada, não pensada. Ou pode ser que ali esteja a sincera expressão do que crê no seu coração, correta ou incorretamente, de acordo com a Escritura. Pode ser uma teologia do orgulho ou da humilhação. Do quebrantamento ou da autoconfiança. Da manifestação de real necessidade ou da cobiça. Das reais preocupações pelas coisas do Senhor e do Reino ou de sua própria cobiça. A oração, no final das contas, é uma radiografia da teologia e vida espiritual da pessoa”.

1,3) Jonas quando estava no pior dos lugares, nas profundezas do mar, dentro do ventre de um peixe, fez uma linda oração ao Senhor (Cap. 2). Mas, quando estava no melhor lugar, vendo uma cidade inteira se arrependendo e se prostrando perante Deus ele fez a pior das orações. Sua segunda oração veio de um coração cheio de raiva. Em sua primeira oração ele clamou a Deus por socorro, mas sua segunda oração pediu para Deus lhe tirar a vida! Jonas preferia morrer do que ter que ver o que não queria. Ele não queria ver a salvação dos seus inimigos.

2) Jonas era um ótimo teólogo, mas um péssimo missionário. Ele conhecia os atributos de Deus, e sabia que o Senhor era “Deus clemente, misericordioso, tardio em irar-se, grande em benignidade e que arrepende do mal” (v.2). Ele sabia que se anunciasse o julgamento a cidade de Nínive e aquele povo viesse a se arrepender, Deus os perdoaria. Devemos nos lembrar que a mensagem de Jonas era de julgamento, não foi anunciado salvação.

Jonas era um homem com privilégios que poucos tinham, ele trazia uma mensagem de Deus, era um mensageiro do Senhor. Porém, ele estava mais preocupado com sua reputação, não apenas com o povo de Nínive, mas também com os judeus de sua terra natal. Os judeus queriam a destruição dos seus inimigos, e quando soubessem que Jonas havia sido instrumento de Deus para salvação de uma nação estrangeira, ficariam irados com ele, pois o considerariam como um traidor da política externa dos judeus. Jonas com seu patriotismo egoísta, considerava a Assíria apenas como um inimigo a ser destruído, e não como um grupo de pecadores que precisavam se arrepender e serem conduzidos ao Senhor. O povo de Israel, por ser uma nação eleita de Deus, encheu seu coração de soberba, se esqueceram que deveriam ser um canal de benção para os gentios.

Quando a reputação é mais importante do que o caráter e quando agradar a nós mesmos e a nossos amigos é mais importante do que agradar a Deus, então corremos o risco de nos tornar como Jonas e de dedicar nossa vida a defender preconceitos e não a cumprir nossas responsabilidades espirituais” (Wiersbe).

Jonas possuía uma teologia correta somente em palavras, pois a que existia dentro do seu coração era a teologia do orgulho e não da humilhação, teologia da autoconfiança e não do quebrantamento, teologia da cobiça e não da real preocupação em manifestar o aroma do conhecimento de Deus para aqueles que mais precisam.

4) É razoável essa tua ira? Existe alguma razão dentro do seu coração para tanto sentimento de ódio por alguns tipos de grupos de pessoas? É justificável sua ira por pessoas que pensam diferente, se vestem diferente, praticam coisas que são abomináveis aos olhos do Senhor? Jonas poderia ter apresentado milhões de motivos para Deus, nenhuma seria justificável, porque eles também precisam ouvir de Deus, pois nem a nação de Israel e nem Jonas possuíam alguma qualidade que Deus pudesse ter apreciado neles para os escolher para salvação. Por isso o cristão deve ser grato a Deus, reconhecendo que sua graça foi algo imerecido, então eles devem anunciar dessa graça exatamente para aqueles que são oposição, seus inimigos, “porque nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra as forças espirituais do mal, regiões celestes”(Ef 6:12).

 

2. UM MISSIONÁRIO QUE SE AFASTOU DAS PESSOAS AMANDO MAIS O CONFORTO DO QUE A SALVAÇÃO DELAS – 4:5-8

 5) Jonas mais uma vez abandona o lugar do seu ministério, ele deixou a cidade e foi sentar-se num lugar ao oriente de Nínive para ver o que aconteceria. Ele ainda tinha esperança de ver o Senhor executar seu julgamento contra a cidade de Nínive. Assim como o irmão mais velho do filho pródigo, ele não se juntou com os outros para desfrutar do banquete (Lc 15:28). Ao invés de se juntar as pessoas e compartilhar com elas da alegria de servirem o mesmo Deus que também havia perdoado seus pecados e lhe dado uma segunda chance para servi-lo, este homem somente aumentava sua ira contra os ninivitas.

6-8) O lugar onde Jonas ficou para ver a possível destruição de Nínive era desconfortável, e Deus num gesto de bondade fez crescer uma planta cujas folhas protegiam Jonas do sol. Ele ficou muito contente com a planta, o texto diz que ele se alegrou em extremo por causa da planta. Mas, no dia seguinte Deus enviou um verme que destruiu a planta e Jonas ficou infeliz. Deus enviou um vento seco do deserto juntamente com o sol escaldante para Jonas e com isso ele sentiu novamente mais ainda o desejo de morrer.

O medo e o desejo são dois lados de uma mesma moeda, por exemplo, se uma pessoa deseja dinheiro, terá medo da pobreza. Se ela almeja ser aceita, ficará aterrorizada com a rejeição. Se uma pessoa teme a dor e o sofrimento, terá desejo por conforto e prazer. Se ela deseja ser superior, terá medo de ser inferior aos outros. No caso de Jonas vemos que o conforto era algo que ele desejava e se alegrava muito, isso significa que o medo da dor e o sofrimento era também era algo que ele temia. Este também por ter sido um dos motivos de sua fuga para Társis ao invés de ir para Nínive (Jn 1:3).

 
 

3. UM MISSIONÁRIO QUE NÃO TEVE COMPAIXÃO DAS PESSOAS QUE ELE ESTAVA TENTANDO LEVAR PARA DEUS – 4:9-11

 9) É razoável essa tua ira por causa da planta? Você tem alguma razão para estar tão furioso por causa da planta? Um teste simples de caráter é perguntar: O que me faz feliz? O que me deixa com raiva? O que me faz desistir?

Roger Greenway em seu livro “Ide e fazei discípulos”, no capítulo 20 ele fala sobre o preparo para tornar-se um missionário. Ali ele conta que foi convidado por um pastor no México para ajudá-lo a descobrir o que havia de errado com a Escola Dominical de sua Igreja. O líder da Escola Dominical era uma pessoa altamente culta e parecia ser muito dedicada em organizar um programa excelente. Entretanto, os problemas surgiam, um após o outro, e todos se tornavam frustrados. Ao conversar por várias horas com o superintendente da Escola Dominical Roger descobriu a raiz do problema quando o superintendente disse para ele – “eu sinto um grande prazer na organização e liderança da Escola Dominical, contanto que afastem as crianças de mim. Eu não gosto de crianças”!

Ali estava a razão do problema, a pessoa responsável não amava as crianças! Existem missionários, pastores e evangelistas que não amam as pessoas às quais estão tentando levar para Cristo. Estão agindo como o profeta Jonas. Alguns pastores não amam suas congregações. Essas pessoas não abençoam o trabalho cristão. Assim como Jonas, eles se alegram em extremo quando sentem conforto físico, mas não se preocupam em ganhar os perdidos para o Senhor. Alguns gostam dos livros e da privacidade muito mais do que de amar as pessoas. Querem servir ao Senhor, mas não desejam se aproximar das pessoas. “O trabalho de um missionário, entretanto, requer envolvimento com todos os tipos de pessoas e o amor por elas em nome de Cristo”(Roger Greenway).

10-11) Jonas fez a vontade do Senhor, mas com as motivações erradas. Sentiu pena de uma simples planta, e odiou as pessoas que ele deveria ter se compadecido (amado). Jonas conduziu uma cidade inteira à fé no Senhor e, no entanto, não se compadecia (amava) o povo para o qual estava pregando!

Eles não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda. É um grupo de pessoas sem maturidade espiritual, não sabem discernir entre o bem e o mal. São crianças que precisam de instrução, de ensinamentos que vão lhes proporcionar um crescimento saudável (Dt 1:39; Is 7:15,16).

 

4. O CORAÇÃO É A SEDE DAS MOTIVAÇÕES

 O coração é a sede das motivações. Todo comportamento tem um quando, um que e um porquê. O “quando” do comportamento é a circunstância para o comportamento. O “que” do comportamento é aquilo que alguém faz ou diz. O “porquê” do comportamento é a motivação.

Imagine que você chegue em casa de carro e encontre uma bicicleta no meio do caminho. Você tem que descer do carro e tirar a bicicleta do caminho. Irritado, entro em casa para procurar o dono da bicicleta. Alguém vem em sua direção e pergunta porque você está tão bravo, e você responde que está bravo porque alguma criança deixou a bicicleta no meio do caminho.

Entretanto a bicicleta não é o “porque” de você estar irado, é o “quando”. O “quando” do seu comportamento é a circunstância. O “que” de seu comportamento é a explosão da raiva. O “por que” de sua raiva é a motivação interior – sua atitude de coração.

Voltando para o cenário de Jonas, agora podemos analisar melhor as atitudes de motivação do coração do profeta. A oração com raiva de Jonas é o “quando” do seu comportamento, ou seja, é a circunstância. Quando Jonas viu o povo de Nínive se arrepender ele ficou extremamente irado (4:1), pois sabia que Deus seria misericordioso com aquele povo, caso de arrependessem. O “que” seria sua explosão de raiva, seu desejo de morrer ao invés de ver aquele povo ser perdoado por Deus. O texto ainda diz que ele ficou extremamente alegre por causa do conforto que Deus lhe deu com aquela planta, mas teve mais compaixão por ela quando Deus a destruiu do que com as pessoas de Nínive. O “porque” seria o motivo de sua raiva. Jonas tinha ódio daquele povo por causa das atrocidades que eles haviam feito com o povo de Israel, e medo de que Deus fosse misericordioso com eles. Jonas apresentava atitudes ímpias como: ódio e raiva em seu coração. Jonas não conseguia amar e nem perdoar aquele povo (atitudes piedosas).

 

5. COMO NÓS CHEGAMOS À PROCRASTINAÇÃO

Preguiça e Medo: Muitas vezes deixamos de cumprir nossas responsabilidades porque na preguiça nos tornamos escravos do nosso conforto pessoal. O medo faz com que pensemos no futuro de modo pessimista, e nos escraviza em um futuro terrível, daí nós fugimos de nossas responsabilidades.

Ira e Ressentimento: Muitas vezes deixamos de cumprir nossas responsabilidades porque as coisas não aconteceram do jeito que eu esperávamos e a ira diz que esta é maneira de encontrarmos controle neste mundo. A ira está conectada com o nosso ressentimento que diz que “eu não aceito e não perdoo que as coisas não tenham saído do meu jeito.

 

CONCLUSÃO

 A ira diz: “Você está errado, eu estou certo”. A ira é um disfarce para o medo, e o maior medo de Jonas era que Deus concedesse o perdão ao inimigo mais odiado de Israel antes da Babilônia, ou seja, a Assíria. A ira é a maneira que muitas pessoas lidam com o medo para poder obter o controle sobre as pessoas e circunstâncias.

O medo e o desejo são dois lados de uma mesma moeda. No caso de Jonas vemos que o conforto era algo que ele desejava e se alegrava muito, isso significa que o medo da dor e o sofrimento era também era algo que ele temia muito. Este também por ter sido outro motivo de sua fuga para Társis ao invés de ir para Nínive (Jn 1:3).

Talvez você esteja sentado como Jonas olhando de longe para aqueles que você deseja o juízo de Deus. Talvez você tenha desfrutado da misericórdia de Deus, mas não tem sido misericordioso para com eles que ofenderam você. Não adianta procrastinar sua responsabilidade por causa da sua preguiça e medo, e por causa de sua ira e ressentimento, as coisas não vão acontecer no jeito que você quer, mas conforme a vontade de Deus. Tem algo que você precisa fazer que ainda está fugindo? Vá e acerte!

 

APLICAÇÕES

 1) Quando você costuma ficar irado? Em que circunstâncias e com que frequência você fica irado? Com quem você costuma ficar irado facilmente?

2) Quando você fica irado, o que você costuma dizer e pensar? Como você age?

3) Por que você fica irado? Qual o motivo da sua ira? Você guarda ódio e amargura no seu coração das ofensas, das agressões físicas e verbais, dos mal-entendidos que as pessoas cometeram contra você? Você tem disposição em perdoar e amar seus inimigos? Ou você deseja a queda e a destruição deles?

4) Você fica extremamente alegre com as coisas que lhe fornecem conforto físico e ao mesmo tempo fica extremamente irado quando estas coisas lhe são tiradas? Você tem compaixão por aqueles que não conhecem a Jesus? Você deseja morrer ao ver seu inimigo convertido a Cristo e se tornar um irmão na fé?

Um comentário:

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