sexta-feira, 31 de março de 2017

“Mecanismos de autodefesa” ou pecado?


Em nosso mundo personalista ou “psicologizado” crescemos aprendendo, através de percepções ao longo da vida e pressupostos tácitos, que o ser humano é como uma máquina que podendo estar sob pressão excessiva de angústia cria mecanismos de defesa do ego e através de reações automáticas ele alivia sua tensão. O problema é que o caráter destes “mecanismos de defesa” testemunha o engano do pecado e da culpa humana, dando nomes técnicos aos comportamentos de defesa que nada mais servem como desculpas de problemas psicológicos.

As pessoas têm dificuldades de ver os “problemas emocionais e psicológicos inconscientes” como sendo intimamente relacionados ao pecado. Já ouvi muitas vezes pessoas dizerem sobre o comportamento pecaminoso de fulano como sendo algo terrível, mas logo em seguida justificam que esta pessoa sofreu traumas no passado, ela tem “problemas emocionais”, é um esquizofrênico paranoico, é um caso de psicose ou de neurose. “Ela não escolheu ser assim”.
É muito comum dividir os comportamentos defensivos em categorias diferentes, em vez de chamá-los de pecado. Por mais que a culpa seja negada e distorcida, a pessoa na defensiva tem culpa.

“Pois o perverso se gloria da cobiça de sua alma, o avarento maldiz o SENHOR e blasfema contra ele” (Salmos 10:3).
Os perversos fazem o que querem. Uma pessoa que entrou em uma escola, cinema ou igreja e matou dezenas de pessoas, um pai que abusou de sua filha, não estava fora de si quando cometera seus atos perversos, não são pessoas “doentes”, são malévolos e vivem segundo suas tendências.

Na igreja tenho observado que muitas pessoas ao esconderem seus pecados e sentimentos de culpa transferem a atenção das questões importantes (questões de pecado) para questões secundárias. Por exemplo, um crente pode estar obcecado pela necessidade de realizar eventos evangelísticos para entrega de folhetos, e ao mesmo tempo ter péssima relação com a família e os colegas de trabalho (devido as atitudes julgadoras e hipócritas). Neste caso preocupações secundárias chamam mais atenção que os problemas pessoais e interpessoais. Na psicologia isso é chamado de “substituição”, mas a Bíblia mostra claramente que isso provém de um coração orgulhoso cheio de pecados que precisa ser tratado.

É surpreendente como uma pessoa “inconsciente” reconheça que é responsável por sua reação pecaminosa assim que sua atitude é desmascarada. E a pessoa mais consciente fica profundamente enganada (David Powlison).

A doutrina bíblica do pecado acomoda a realidade de ações inconscientes: o pecado é um obscurecimento da mente, uma compulsão cega, uma escravidão (Jr 17:9).

Infelizmente quem prega sobre pecado é chamado de moralista. O termo “pecado” tem conotação de crítica ou exortação moralista. Mas para a Bíblia, e para um cristão que busca o verdadeiro autoconhecimento em vez de racionalização, essa palavra tem conotação da graça salvadora de Jesus Cristo, pois ele veio salvar e convidar pessoas para uma transformação interna da mente, coração, motivação, vontade, identidade e emoções. Ele veio atrair pessoas que já estão julgadas e não têm poder para se transformar.

A psicologia secular busca aceitar as pessoas em vez de julgá-las e demonstra aceitação em vez de promover sentimentos de culpa, de tornar os desajustes comportamentais em problemas psicológicos em vez de pecado.
A natureza da racionalização é se esconder dos duros fatos, dos golpes contra o orgulho. A responsabilidade humana é calada (David Powlison).

Certa vez ouvi de minha esposa, que é psicóloga, que meu comportamento em determinada área de minha vida era um mecanismo de defesa resultante de experiências do passado. Como isso ajudou a reduzir meu nível de ansiedade e como isso me fez sentir mais autoconfiante, pois alguém conseguiu dar um nome técnico para o meu problema, fiquei até com pena de mim, mas eu fui profundamente enganado por uma teoria da psicodinâmica. É isso que terapeutas fazem, dão as pessoas o que elas querem ouvir, elas saem de seus consultórios cheias de si, mas se ousarem confrontar seu orgulho, elas não voltam nunca mais. Graças a Deus minha esposa é uma excelente psicóloga cristã, na verdade uma conselheira bíblica, com uma cosmovisão cristã reformada.

Estudos clássicos sobre “mecanismos de defesa do ego” estão arraigados na tradição freudiana. Existem também os “mecanismos autoindulgentes” de Albert Bandura.

Os principais mecanismos de defesa dos psicólogos do ego (psicodinâmico) são: Repressão, Projeção, Formação reativa, Fixação e regressão (Teorias da Personalidade – Hall Lindsay).

Os principais mecanismos de autoindulgências (comportamental) são: Rotulação eufemística, comparação vantajosa, atribuição de culpa, difusão de responsabilidade e desrespeito as consequências.

Tanto um quanto o outro distorcem o modo como as pessoas funcionam. A visão bíblica é drasticamente diferente tanto de Freud quando de Bandura.

“Eles tratam da ferida do meu povo como se ela não fosse grave. "Paz, paz", dizem, quando não há paz alguma” (Jeremias 8:11).

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