quinta-feira, 27 de abril de 2017

A tática do centroavante: A falsa esperança baseada em uma visão não bíblica da oração e a compreensão inadequada da mudança bíblica


Domingo passado, por volta das 18:00hs, um homem veio até o portão de minha casa e me chamou para pedir-me algo. Ele foi educado, cumprimentou-me bem e foi logo ao assunto. Ele disse que não tinha dinheiro para comprar um maço de cigarros e se eu poderia arrumar para ele esse dinheiro, pois no dia seguinte ele me pagaria. Eu disse a ele que não poderia ajuda-lo devido a finalidade em que o dinheiro seria usado. Ele alegou ter sido honesto comigo, pois ele poderia ter mentido, e falado que o dinheiro seria para comprar pão ou comida. Disse que já frequentou igreja e que tem orado para Deus tirar esse vício dele. Também disse que Deus tem tempo e propósito para todas as coisas (penso que ele estava referindo-se a Eclesiastes 3:1-8), pois quando chegar o tempo de Deus, ou seja, quando for sua vontade, ele iria parar de fumar, mas hoje não era esse dia, pois ele precisava muito suprir esse vício.

Eu disse a ele que dizer a verdade já é um bom começo, mas ainda não é o suficiente, pois estava faltando algo, seu esforço. Se você tem orado para Deus tirar esse vício, então você bateu na porta certa, pois hoje é o dia em que você pode tomar a decisão de parar com esse vício. Você poderá até ter recaídas, mas enquanto estiver esperando o “tempo de Deus” você nunca irá parar. Disse a ele que o vício do cigarro é o mesmo que dizer para Deus que Ele não é suficiente para mim, que eu não confio em Ti, pois quando você está passando por problemas na família ou no trabalho você recorre ao cigarro para tentar “aliviar” sua ansiedade, e Deus conhece aqueles que se refugiam e confiam nele nas horas difíceis. Sei que pude conversar bastante com ele e ministrar o evangelho de Cristo em sua vida e oferecendo ajuda, caso ele quisesse. Eu disse que ele poderia vir em minha casa para estudarmos a Bíblia, ir aos cultos na igreja, orar e tentar ajuda-lo de alguma forma. Ele disse que iria descer a rua e arrumar o dinheiro com outra pessoa.

A questão desse problema é a falsa esperança que se baseia em uma visão não bíblica da oração e uma compreensão inadequada da Bíblia.

 Primeiro, o que ele fez em relação ao problema? Ao conversar com ele descobri que orar é tudo o que ele crê que Deus exige que ele faça e mais nada. Essa é a tática do centroavante. Imagine essa situação espiritual com relação a um jogo de futebol. Passamos a bola para Deus (por meio da oração) e esperamos que Ele passe como um centroavante por todos os defensores e faça a o gol sem qualquer ajuda nossa. Esse tipo de visão só produz falsa esperança, porque Deus jamais prometeu que alcançaríamos o alvo da piedade divina sem um esforço pessoal tenaz (I Tm 4:7b). Precisamos de força divina para vencer (Jo 15:5). Outro exemplo seria o caso daqueles que enfrentam problemas com pecados sexuais, e que depois se revoltam com Deus, porque Ele não removeu seus problemas em resposta às suas orações. Muitas pessoas não se envolvem nos trabalhos da igreja alegando que Deus está no controle, mas na verdade elas não querem se envolver devido estarem ocupadas de mais com seus afazeres, e depois para “compensar” pagam a “mensalidade” (dízimo) ou contribuem com obras missionárias (Lc 10:38-42).

Segundo, ao conversar com ele descobri também que ele possui uma visão inadequada da mudança bíblica, ou seja, ele estava esperando que Deus (em resposta a sua oração), em um estalar de dedos, tirasse seu vício de forma sobrenatural, retirando totalmente seu desejo de fazer o que é errado. Sua visão equivocada de Eclesiastes 3:1-8 o fez lançar a responsabilidade sobre Deus de sua mudança a ponto de não se esforçar, de não se envolver no processo de santificação. Ele não compreendeu o que a Bíblia tem a dizer acerca da função da autodisciplina na santificação, e que isso é preciso ser aprendido antes que a verdadeira mudança possa ocorrer. Faltou equilíbrio entre a fé e o esforço.

 CONCLUSÃO:
Em Mateus 6:11, Jesus disse que deveríamos orar: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”, mas em 2 Tessalonicenses 3:10 Paulo diz: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma”. Esses dois mandamentos não são contraditórios, pois enquanto devemos orar a Deus para que Ele nos supra com aquilo que necessitamos para o viver, não devemos esperar que isso caia do céu.

Até a esperança que colocamos na oração pode se tornar falsa, se esperarmos que ela, por si só, tudo resolva. Precisamos trabalhar e nos envolver no processo de santificação com a força que Deus dá (John F. Macarthut Jr. – Introdução ao Aconselhamento Bíblico).

sábado, 8 de abril de 2017

O modelo de aconselhamento integracionista (Psicologia/Teologia)


Muitos psicólogos, psiquiatras, pastores e conselheiros cristãos têm usado o modelo de aconselhamento integracionista em suas igrejas e com seus aconselhados. O que a palavra integracionista quer dizer? O conselheiro integracionista é aquele que vê as Escrituras a partir das ciências sociais. Estes conselheiros não têm como ponto de partida as Escrituras, mas, seus pressupostos são ecléticos e suas cosmovisões também. A Bíblia estabelece que nenhuma teoria humana é neutra, e que todas tendem à rebelião do coração, ou seja, na mente e nos atos do corpo (Rm 1:18-32; 1Cr 28:9).

Quero citar alguns nomes de conselheiros cristãos que usam o modelo de aconselhamento integracionista.

O conselheiro cristão Larry Crabb, em seu livro Inside Out (De dentro para fora) ensina que o mecanismo por trás da alma é o coração vazio, ferido, ansioso, carente e vitimado. Ele deriva sua estrutura da psicologia psicodinâmica secular e contradiz a Bíblia e a realidade (Clique aqui para saber mais sobre a teoria da psicodinâmica de Freud). O conselheiro cristão que deriva seu modelo de aconselhamento dessa teoria, poderá dizer ao seu aconselhado que as experiências do passado determinam ou justificam seu modo de vida hoje. Por exemplo, se o seu aconselhado foi vítima de abuso sexual de seu pai em sua infância, ele dirá que estas experiências dolorosas explicam e determinam seus pensamento e ações, como os desejos por relacionamentos com pessoas do mesmo sexo hoje na vida adulta (homossexualismo). Mas, quando olhamos a Escritura e como as pessoas vivem sua vida, fica claro que as experiências dolorosas jamais determinam por que as pessoas pensam e agem dessa ou daquela maneira.

As tentações e provações não modelam nossos pecados nem tornam vazio nosso coração. Pelo contrário, o passado oferece um contexto onde o coração ativo e obstinado se revela e se expressa (David Powlison – Uma nossa visão). Os sofrimentos de infância podem ser perturbadores, mas a tendência de cair em tentações não surge de causas externas, mas de dentro de nós. Os sofrimentos, o diabo ou Deus não produzem nossos pecados. Somos atraídos pela nossa própria cobiça (Tg 1:2,14).

Nosso coração não é passivo, o modo como eu ajo não foi determinada por uma causa externa. Ninguém tomou a decisão por outra pessoa quando ela decidiu conscientemente ser homossexual, isto não é determinado por uma experiência do passado.  Este pensamento é semelhante a Pelágio e não como Agostinho e a Bíblia. No entendimento pelagiano, somos responsáveis somente por atos conscientes, de nossa vontade. “Mas, como eu sou uma vítima de abuso, outra pessoa é responsável pelo o que eu me tornei, não tomei essa decisão conscientemente, alguém tomou ela por mim”.

A existência da perversidade não nos torna cegos à pureza. No Brasil, hoje, muitas pessoas da raça negra se apoiam nesse pensamento de que foram prejudicadas no passado pela escravatura e que isso tem determinado suas poucas oportunidades de estudos e sucessos profissionais. Quando lemos as cartas de Paulo, vemos que Deus escolheu uma palavra carregada de muita experiência negativa, ou seja, eles foram chamados de escravos de Cristo (1 Co 7:22). Que choque devia ser a linguagem de imagens de escravidão utilizada por Paulo para aqueles escravos ressentidos ou desesperados.

Outro autor muito conhecido é Gary Chapman, autor do livro As cinco linguagens do amor. Este livro pode ser resumido assim: “Identifique o desejo do outro e supra-o” ou “Se eu coçar as suas costas, você vai coçar as minhas”. As cinco linguagens do amor, ensina a nos tornarmos conscientes daquilo que os outros querem, e nos diz para lhe dar exatamente isso. Se dermos as pessoas aquilo que faz com que elas se sintam receptores, elas tentarão nos devolver o que receberam.

Vejamos o que a Bíblia diz em Mateus 5:46-47:

“Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?”

Chapman está seguindo os princípios que guiam os relacionamentos humanos, ou seja, os mesmos princípios dos publicanos, gentios e pecadores. Essa é a dinâmica que faz o modelo de Chapman funcionar. Amar de verdade é ajudar o outro a ver sua coceira como idolatria, e despertá-lo para uma coceira mais séria! Nossos desejos mesmos legítimos podem se tornar em exigências, em desejos idólatras e pecaminosos.

Em seu livro você poderá observar uma expressão de um “tanque emocional vazio”. Este tanque precisa ser abastecido para que as necessidades do outro sejam satisfeitas (parece mais com a teoria de Maslow do que com os fundamentos bíblicos). Chapman diz que o mau comportamento, palavras ásperas e o espírito crítico em um relacionamento é devido ao vazio do “tanque emocional”. Estar com o tanque vazio de amor é motivo para maltratar os outros? Pagamos o mal porque nos fizeram o mal? (Mt 5:46-47). Se déssemos ao próximo o que ele espera, ele nos amaria de volta? Este é princípio para a chave do sucesso conjugal? Chapman justifica o adultério do marido devido este estar com seu tanque vazio, ou seja, sua mulher não supriu suas necessidades e por isso ele foi “empurrado” a buscar satisfazer suas necessidades fora do casamento. Este livro apresenta o “pobre adúltero”, como vítima bem-intencionada, carente e decepcionada pela incapacidade do outro em amá-lo do jeito certo. Não existe um chamado para encarar a si mesmo e temer ao Senhor e chegar ao arrependimento. Ele embeleza a cobiça em vez de chama-la pelo o que ela é aos olhos de Deus. Este livro apresenta nossas cobiças como pretexto de “necessidades emocionais”.

Ele também afirma que se as necessidades emocionais das crianças não forem satisfeitas, elas poderão violar os padrões aceitáveis, expressando ira para com os pais. Para ele, grande parte do mau comportamento das crianças e dos adolescentes advém de tanques vazios do amor. Não há ministração do evangelho de Cristo neste livro sobre educação de filhos, mas um mero sentimentalismo, onde os pais precisam satisfazer as necessidades de seus filhos.

Os casais de Gary Chapman não carecem de sangue, suor e lágrimas de Jesus. Estas pessoas não necessitam de ajuda e poder vindos de fora, não precisam que Jesus volte, porque a situação atual é boa o suficiente. Chapman jamais trata do fato de que até os desejos por coisas boas podem ser maus aos olhos de Deus (David Powlison). Eles desconhecem o arrependimento e o perdão por aquilo que almejam e vivem. É preciso arrepender-se de amar apenas a quem o ama, para aprender a amar verdadeiramente os inimigos, por amor a Cristo.

E por último, quero citar o psicólogo cristão James Dobson. Ele é autor de vários livros com foco na família. Em seu livro Adolescência Feliz, ele afirma que a masturbação de um adolescente é algo normal, e que praticamente todo menino faz isso. Mas, a palavra “normal” não é sinônimo de moralmente aceitável. Se todos pecaram e carecem da glória de Deus, então o pecado é tanto absolutamente normal quanto horrível. Ele acredita que o sentimento de culpa leva a consequências catastróficas em inúmeras crianças. Afirma que os pais devem raramente falar com seus filhos sobre masturbação. Para ele a masturbação não é um grande problema para Deus, mas uma parte normal da adolescência.

Precisamos compreender que a masturbação está quase sempre associada a cobiça sexual. “Quem olhar com desejo para uma mulher já cometeu adultério com ela no coração” (Mt 5:28). Mesmo que a Bíblia não fale a palavra masturbação como pecado, há passagens como esta que mostram que ela fazia parte desta mensagem de Jesus. Ela viola a santidade de Deus, polui nossa mente e nos leva ao isolamento. Muitas imagens pornográficas passam na mente da pessoa enquanto está se masturbando, fornecendo combustível que ela precisa. Se este ato tem servido como algo feito para aliviar a tensão ou tédio haverá prejuízos causados em seu coração. Deus não planejou o sexo para ser praticado isoladamente, mas para ser desfrutado entre duas pessoas: marido e mulher. Isso leva a unidade, mas a masturbação leva ao isolamento.

O sentimento de culpa não é algo irracional, mas uma manifestação da graça de Deus. Essa culpa é dor com proposito corretivo (Tim Challies). Como diria John Piper: “Não desperdice sua culpa!”.

Devemos também ter cuidado com a expressão “eu sinto” para não confundirmos nossos sentimentos como se fossem suprema realidade. As opiniões e crenças dever ser avaliadas à luz da Palavra. O que aconteceu realmente? O que você pensa e crê? Como julga as pessoas ou sua situação? Finalmente, o que você pensa é verdadeiro e justo, ou falso e pecaminoso? A declaração eu "sinto" não lança perguntas como essas. Em vez disso, esconde uma avaliação consciente de minhas ideias e meus juízos. O que eu sinto simplesmente é. A minha verdade substitui a verdade. Jay Adams disse que ser dirigido por sentimentos é o problema motivacional das pessoas, ele estava dizendo que as pessoas pecadoras são dirigidas por mentiras e cobiças. Como se pode tratar daquilo que não se tem consciência? A expressão "eu sinto" obscurece a responsabilidade por nossos desejos. As pessoas agem como seus sentimentos fossem impulsos de autoridade! Desejos enganosos determinam as escolhas (David Powlison – Uma nova visão).

Nestes exemplos acima, podemos encontrar algo em comum nos ensinamentos destes homens. O pecado não é levado como a razão final dos pensamentos e ações das pessoas, mas embelezado e explicado com termos técnicos de teorias seculares.

“Qualquer teoria que proclama explicar o pecado, na verdade, é presa dos efeitos intelectuais do próprio pecado, e se esquiva da verdade teológica e da realidade psicológica. O pecado é a explicação mais profunda, não apenas mais um problema pedindo razões mais profundas” (David Powlison – Uma nova visão).

O modelo de aconselhamento integracionista visa muitas vezes o sucesso nos relacionamentos interpessoais utilizando dos recursos das ciências sociais como fundamento de seus ensinamentos que busca intercalar a Bíblia com aquilo que almejam alcançar. O ponto de partida deve ser sempre as Escrituras e não as ciências sociais, embora elas possam contribuir com elementos importantes em nossas pesquisas.

O grande teste para saber como é seu coração não é observar problemas externos ou experiências dolorosas do passado, mas, é observar como você lida com aqueles que o tratam com falsidade, rejeição e mal-entendidos. Se você age pagando o mal com o mal, você está apenas revelando e expressando seus pensamentos e ações de forma consciente o seu coração ativo e obstinado em meio a estes contextos, porém, pela graça de Cristo você pode começar a mudar hoje aquilo pelo qual vive.

Os heróis se vão e nós também - Juízes 16

Alguém disse que um dia especialmente importante para um filho é aquele no qual ele se dá conta de que seus pais pecam. Da mesma forma com...