quinta-feira, 25 de maio de 2017

Negociação Cooperativa vs. Negociação Competitiva: Compreendendo os interesses dos outros enquanto busca os seus para negociar a paz (um acordo) - 1Samuel 25:2-35


Nesta série sobre Resolução de Conflitos, aprendemos sobre como podemos viver como pacificadores em nossa família, igreja e trabalho. Tratamos sobre o a raiz do conflito, ou seja, sobre aquilo que pode estar governando nosso coração, sobre a ansiedade (entregar e agir), sobre o temor de homem e sobre o perdão. Hoje falaremos sobre negociação. A negociação pode ser competitiva (quando você procura primeiramente seus próprios interesses) ou cooperativa (quando você busca os interesses dos outros enquanto busca os seus), para encontrar uma solução (um acordo) para o problema.

Esta história fala da sabedoria e prudência de uma mulher chamada Abigail. Ela foi usada pelo Senhor para deter o futuro rei de Israel de sua insensatez de cometer um crime. Não foi para qualquer rei, sua repreensão foi para Davi.

Davi havia fugido com um grupo de homens para o deserto depois que o rei Saul tentou matá-lo. Enquanto Davi e seus homens estavam acampados no deserto, eles protegiam os fazendeiros locais de bandidos e assaltantes. Um destes fazendeiros era um homem rico chamado Nabal. Quando as provisões de Davi acabaram, ele enviou alguns de seus homens até Nabal para pedir alimento em troca da proteção que ele oferecia. Nabal não só recusou o pedido de forma áspera, mas também insultou Davi. Quando Davi ouviu do insulto, ficou tão irado que planejou vingança imediatamente. Ele ordenou que quatrocentos dos seus homens tomassem suas armas e saiu para destruir Nabal e todos os homens que o serviam.

É neste momento que a esposa de Nabal, Abigail, entra em cena. Ela ficou sabendo o que seu marido havia feito e percebeu que Davi provavelmente ficaria insultado. Temendo um ataque, ela saiu ao encontro de Davi e seus homens para negociar uma paz. Ela levou vários jumentos carregados de alimentos (uma excelente forma de preparar uma conversa e afirmar consideração e respeito pela outra pessoa), e encontrou com Davi quando ele estava descendo das montanhas. Ela se aproximou com grande humildade e afirmou claramente sua consideração e respeito por Davi.

 

1. A INSENSATEZ DE UM HOMEM DIANTE DE UM INSULTO – 25:2-13

O grande teste para saber como é meu coração não é observar problemas externos ou experiências dolorosas do passado e do presente, mas é observar como eu lido com aqueles que me trataram e tratam com falsidade, rejeição, insulto e mal-entendidos. Se peco contra meu próprio corpo ou ajo pagando o mal com o mal, estarei apenas revelando e expressando meus pensamentos e ações de forma consciente o meu coração ativo e obstinado em meio a estes contextos.

4-8) Como já vimos, Davi e seus homens haviam servido de muro de proteção para os rebanhos de Nabal e seus servos que cuidavam dos animais. Davi havia servido Nabal, e tinha esperanças que ele o recompensasse por seus serviços, pois era comum aparecer ladrões no tempo de tosquia.

17,25) Nabal é descrito como um homem de caráter “duro e maligno” (v.3). Ele é chamado de “filho de Belial” pelo seu servo e por sua própria esposa. O termo hebraico “beliya’ al” significa “indignidade”, no Antigo Testamento, este termo referia-se as pessoas que transgrediam a lei deliberadamente e que desprezavam aqueles que eram bons (Dt 13:13; Jz 19:22; 20:13; I Sm 2:12). No Novo Testamento, o termo refere-se a Satanás (2 Co 6:15 - “maligno, perverso, sem lei”).

10,11) As palavras de Nabal a Davi e seus homens revelam o coração de um homem egoísta, arrogante e rebelde. Nabal comparou Davi a um homem rebelde que abandonou seu senhor.

12,13) Quando os homens de Davi voltaram e relataram a resposta de Nabal a Davi, ele no mesmo instante, se irou, e jurou vingança contra Nabal. É interessante observar que Davi foi capaz de perdoar Saul, que desejava matá-lo, mas não pode perdoar o insulto de Nabal, a ponto de não só desejar matá-lo, mas todos os homens de sua casa.

Será que meu próprio egoísmo e senso de direito não estão contribuindo para ampliar ofensas mínimas tornando-as em crimes capitais? Será que os meus próprios pecados não estão provocando outros a pecarem contra mim em resposta, fazendo com que colha aquilo que plantei?

Davi deixou-se controlar por sua ira, não consultou o Senhor, mas apressou em satisfazer sua sede de vingança. Que grande pecado e que grande estrago Davi estava prestes a cometer contra sua própria vida, contra o seu caráter, seu “ministério”.

Davi deixou que seus desejos que eram legítimos se tornassem em exigências pecaminosas, em ídolos no seu coração. Davi desejava ser respeitado, pois havia servido esse fazendeiro com bondade, porém, recebeu em troca um insulto dele. Esse desejo se tornou uma exigência, depois ele julgou e tentou punir Nabal. Isto é o que chamamos de progresso idolátrico: Eu desejo – Eu exijo – Eu julgo – Eu puno (Ken Sande).

É neste momento que precisamos fazer uma pausa e fazer a seguinte pergunta: “Senhor, como seu nome pode ser glorificado diante dessa situação?” Falaremos sobre essa pausa no terceiro tópico.

 

2. A SENSATEZ DE UM JOVEM DIANTE DE UM CONFLITO - 25:14-17

Este jovem anônimo relatou a Abigail o que Nabal, seu senhor, havia feito com os homens de Davi. Ele disse com detalhes como Davi e seus homens foram bons para eles servindo de muro de proteção de bandidos no deserto. Ele sabia que não poderia conversar sobre coisa alguma com Nabal, de modo que foi procurar imediatamente sua senhora, uma mulher sábia e prudente.

“O prudente percebe o perigo e busca refúgio; o inexperiente segue adiante e sofre as consequências” (Pv 27:12 – NVI). Se o jovem tivesse levado o problema para seu senhor é certo que haveria mais derramamento de sangue.

Este jovem é o exemplo de uma pessoa que toma providências pensadas para prevenir problemas, buscando resolvê-los ao invés de piorá-los. É o exemplo daqueles que fazem todo esforço antes que os problemas surjam ou piorem.

Muitos casais devem fazer “resoluções” para o casamento durante os tempos prósperos, até mesmo antes dos filhos nascerem, pois em tempos difíceis é bem mais difícil sobreviver aos conflitos.

 

3. A SENSATEZ DE UMA MULHER DIANTE DE UM CONFLITO – 25:18-35

Abigail é relatada como uma mulher sensata e formosa, em contraste do seu marido, um homem duro e maligno (v.3).

Abigail saiu ao encontro de Davi quando este estava prestes a atacar. Ela curvou-se diante de Davi reconheceu-o como “senhor” e rei; ela usou o termo “senhor” quatorze vezes em seu discurso. Nabal, ao contrário, considerava Davi um rebelde. Abigail era uma mulher de fé, que acreditava que Davi era o rei escolhido de Deus e Saul um homem que tentava tirar sua vida (v.29). Ela assumiu a culpa do conflito (vv.24,28). (Ver exemplo da jovem que errou no trabalho – Pregação Tim Keller – City to City 47min.).

Abigail concentrou sua atenção inteiramente nos interesses de Davi na situação. Este é o princípio chave na negociação cooperativa: Quanto mais você entender os interesses do outro mais persuasivo você será na negociação de um acordo (SANDE, RAABE, 2011, p. 149). Foi isso que Abigail fez.

Em vez de confrontar Davi com sua própria posição (“Você não deveria assassinar pessoas inocentes”) ou concentrar-se em seus próprios interesses (“Se você matar todos os nossos trabalhadores ficaremos sem defesas e sem apoio”), ela concentrou sua atenção inteiramente nos interesses de Davi na situação.

Por exemplo, muitas famílias cristãs enfrentam um problema de liderança espiritual no lar. Muitas vezes a esposa fica preocupada com a liderança inconsistente do marido, mas ela não sabe como abordar a questão de forma correta. Ela está vendo seus filhos brigarem, falarem palavrões, fingirem que estão doentes para não irem a escola e a igreja no domingo.

Certa vez Lou Priolo aconselhou um casal que estava tendo um conflito, em um momento a esposa fez um comentário muito sarcástico e amargo sobre seu marido. Nesse momento Lou Priolo interrompeu a esposa e disse: “suas palavras não demonstraram respeito por seu marido, tente falar com ele novamente com palavras gentis”. A esposa nesse momento ficou olhando para seu marido, porém, sua boca travou, então ela disse: “realmente é muito difícil falar assim”.

A razão desta mulher não conseguir falar com seu marido se utilizando de palavras gentis, é porque não havia graça e humildade suficiente em seu coração, por isso ela ficava engasgada com elas. Nossas palavras não podem ser suavizadas sem que primeiro haja transformação no coração.

Como a esposa deve proceder? Conforme o exemplo de Abigail, a esposa sensata e prudente, em vez de confrontar o marido de forma crítica e dura com sua própria posição (“Você deveria  liderar a família em oração toda manhã, fazer devocional e culto doméstico todos os dias da semana”), ou concentrar-se em seus próprios interesses (“Se você liderasse melhor nossa família nossos filhos se comportariam bem melhor”), ela deve concentrar sua atenção nos interesses do marido enquanto busca os seus para tentar negociar a paz e chegar a um acordo, demonstrando sua consideração e respeito por ele. Nesse momento, faça uma pausa, e ore: “Senhor, como seu nome pode ser glorificado diante dessa situação?”, e utilize a técnica do sanduíche criada em 1996 por Roland e Frances Bee assim:

Primeiro passo: Montar a base do pão: inicie a conversa com ênfase e valorização dos pontos fortes da pessoa. Diga que você o ama, que aprecia seu modo de prover o sustento da família, e o quanto está feliz por ter se casado com ele.

Segundo passo. Rechear: Exponha pontos a serem melhorados. A exemplo do seu sanduíche, essa é a parte mais importante, por isso sua descrição é feita em tópicos:

 

a)      Descreva o problema.

b)      Ouça: permita que o outro exponha suas dúvidas e dificuldades.

c)      escreva o comportamento desejado

d)      Procure soluções e chegue a um acordo (junte o maior número de ideias sem criticá-las; podemos fazer culto doméstico de 15 minutos, dois ou três dias da semana, às 19:30hs, pois sei que você chega cansado do trabalho em determinados dias etc.).

 

Terceiro passo. Fechar o sanduíche: reforce os pontos positivos. Demonstre confiança na possibilidade da solução. (Que bom poder contar com sua compreensão).

“Do mesmo modo, mulheres, sujeitem-se a seus maridos, a fim de que, se algum deles não obedecem à palavra, sejam ganhos sem palavras, pelo procedimento de sua mulher” (1Pe 3:1 - NVI). “Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (Fl 2:4 - NVI). Esta passagem mostra que também temos de considerar nossos interesses, como também o interesse dos outros.

Note bem, considerar os interesses do marido neste caso, não é abrir mão dos seus interesses, mas tentar fazer uma negociação cooperativa de modo a mostrar que a inconstância do marido pode prejudicá-lo em seus próprios interesses como: obedecer aos mandamentos de Deus e ver sua família crescendo no temor de Deus, sendo um bom marido, pai e líder espiritual.

28,29) A essa altura Davi começou a se acalmar, pois o Senhor através da vida de Abigail havia impedido Davi de vingar-se. Abigail lembrou de que o Senhor o havia dado uma “casa firme” (dinastia permanente). Não precisava temer o futuro. Sua vida mantinha-se “atada no feixe dos que vivem com o SENHOR”; mas seus inimigos seriam lançados longe como a pedra que Davi usou para derrotar Golias.

32,33,34) Davi bendisse o Senhor por tê-lo impedido, providencialmente, de matar pessoas inocentes e também bendisse Abigail por seu conselho sábio.

“O insensato faz pouco caso da disciplina de seu pai, mas quem acolhe a repreensão revela prudência” (Pv 15:5 - NVI). “Há uma severa lição para quem abandona o seu caminho; quem despreza a repreensão morrerá” (Pv 15:10 - NVI). “Quem ouve a repreensão construtiva terá lugar permanente entre os sábios. Quem recusa a disciplina faz pouco caso de si mesmo, mas quem ouve a repreensão obtém entendimento. O temor do Senhor ensina a sabedoria, e a humildade antecede a honra” (Pv 15:31-33 - NVI).

Davi escreveu o Salmo 141:5: “Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo”. “A maneira de receber uma repreensão ou um conselho é um teste de nosso relacionamento com o Senhor e de nosso desejo de viver de acordo com a sua Palavra” (WIERSBE, 2006, v. 2, p. 274). 

 

CONCLUSÃO

 “O Senhor faz justiça e julga os oprimidos, Ele é misericordioso e compassivo, e não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades. O Senhor se compadece dos que os temem” (Sl 103:6,8,10,13). Jesus assumiu a nossa culpa ao morrer na cruz, e mesmo sendo Deus, abriu mão dos direitos que sua posição poderia lhe garantir, se esvaziou, assumiu a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens” (Fp 2:6-8), e nos ensinou a viver como pessoas pacificadoras e humildes, que consideram os outros como superiores a nós mesmos, com o objetivo principal de glorificar e obedecer a Deus em todas as áreas da nossa vida.

 

APLICAÇÕES PRÁTICAS

 

  1. Como seu coração tem se revelado com aqueles que te trataram e tratam com falsidade, rejeição, insulto e mal-entendidos? Com desejo de vingança, ira e insensatez? Ou como um pacificador?
  2. Sua negociação tende a ser competitiva (procurando primeiramente os seus próprios interesses) ou cooperativa (buscando os interesses dos outros enquanto busca os seus)? Você tem dificuldade em afirmar sua consideração e respeito pelo seu cônjuge? Lembre-se, antes de abordar uma questão, faça uma pausa, e ore: “Senhor, como seu nome pode ser glorificado diante dessa situação?”, e utilize a técnica do sanduíche.
  3. Que lição podemos tirar do exemplo de Nabal, do jovem anônimo, de Abigail e de Davi?

Nabal é o exemplo de pessoa perversa que não aceita disciplina e vive segundo a dureza do seu coração (imoralidade sexual; mentiras; roubos, etc)

O jovem anônimo, é o exemplo de uma pessoa que toma providências pensadas para prevenir problemas, buscando resolvê-los ao invés de piorá-los. É o exemplo daqueles que fazem todo esforço antes que os problemas surjam ou piorem.

Abigail é o exemplo de pessoa que busca o interesse do outro enquanto busca o seu para promover a paz e chegar a um acordo com prudência e sabedoria.

Davi é o exemplo daqueles que diante de um insulto agem precipitadamente, sem reflexão moral, podendo trazer destruição a todos em sua volta (Pv 9:20). Na Bíblia, uma pessoa que age sem refletir é considerada pior que uma pessoa insensata, pois há mais esperança para o insensato do que para o precipitado em suas palavras (Pv 29:20). Porém, graças à intervenção de Deus através de Abigail, Davi também é o exemplo daqueles que recebem o conselho e a repreensão do justo como um favor e benção do próprio Deus para suas vidas, para abandonarem seus intentos pecaminosos e se humilharem perante o Senhor.

 


REFERENCIAL TEÓRICO

SANDE, Ken; RAABE, Tom. Os Conflitos no Lar e as Escolhas do Pacificador: Um guia para lidar com as crises na família. São Paulo: NUTRA, 2011.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Históricos. II Vol. Santo André: Geográfica, 2006.

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