quinta-feira, 1 de junho de 2017

Puritanos Ingleses e o aconselhamento bíblico


Na história do aconselhamento bíblico, os puritanos eram conhecidos como “médicos da alma”. Na crença popular, o termo puritano traz consigo uma imagem de um legalista, estraga-prazeres, farisaico, fundamentalista e um caçador de bruxas (aquele que vive procurando erros teológicos). O termo puritano denotava aquele que queria purificar a adoração da Igreja e a vida dos santos. O puritanismo inglês surgiu por volta de 1560.

O que me chama atenção do movimento dos puritanos é o seu compromisso radical de viver para glória de Deus.  Foram pessoas de esperança, valorosos obreiros e grande sofredores do evangelho.

As Escrituras constituíam a peça central do pensamento e da vida puritana. Para o puritano, a Bíblia era, na verdade, o bem mais precioso que há neste mundo. Para eles não haveria maior insulto ao Criador que negligenciar Sua Palavra escrita. Para os Puritanos, a Bíblia era suprema em tudo, inclusive na prática do aconselhamento. O método de aconselhamento era centrado nas Escrituras. Eles recusavam introduzir teorias psicológicas estranhas no aconselhamento.

O sermão do puritano servia como meio de aconselhar de forma coletiva. Para eles, se os santos não fossem edificados pelo sermão, então a Palavra não havia sido pregada.

O sermão puritano era dividido em duas partes: doutrina e prática, ou seja, o sermão era tanto profundo teologicamente quanto intensamente prático. Cada sermão deveria conter doutrinas explicadas com aplicação imediata na vida das pessoas.

Os puritanos ficariam assustados em ver a igreja de hoje, pois eles tinham um anseio consumidor por Cristo, não tinham tempo para a busca da auto-satisfação. Eles amavam a Deus, não viviam ocupados com suas próprias necessidades, diferente de nós que vivemos na “geração do eu”.

O crente puritano procurava sensibilizar sua consciência para com o pecado. Eles viam a consciência como nosso sistema nervoso espiritual – a dor da culpa informa a compreensão de que algo está errado e carece de correção. Para os puritanos, a culpa negligenciada significava destruição certa. Mas veja o que um pastor contemporâneo chamado Joseph Prince, em seu livro Destinados a Reinar, de autoajuda “cristão”, diz sobre a consciência:

Pare de examinar a si mesmo e de procurar pecados em seu coração...a existência da culpa e da condenação em sua vida mostra que você não acredita que todos os seus pecados foram perdoados...hoje os cristãos não têm motivos para viver com uma consciência de pecado, porque Jesus, sua oferta definitiva pelos pecados, já os tirou deles...o caminho para sair da consciência do pecado é ouvir mais ensinamentos sobre a obra consumada de Jesus (PRINCE; 2012, p.176,181,182)

Resumindo o pensamento de Prince: “pare de ser tão consciente de seus pecados, Jesus já perdoou todo eles”. Livro recomendado por Brian Houston, Pastor Sênior da Igreja Hillsong, outra igreja em decadência.

Muitos evangélicos de hoje têm substituído o realismo bíblico dos puritanos por uma concepção rasa e superficial do pecado. O pecador tem sido reclassificado como vítima, não sendo, portanto, pessoalmente responsável por suas ações. O pecado é o transferir da adoração a Deus para a adoração ao eu.

Grande parte do aconselhamento puritano concentrava-se no problema do pecado. Os conselheiros puritanos sabiam que aquilo que as pessoas menos queriam ouvir era o que elas mais precisavam ouvir.

Já tive o desprazer de ir em um consultório de um pastor formado em psicologia, lembro que nas sessões ao expor meus problemas, eu não fui responsabilizado em nenhum momento pelos meus pecados, aliás, ele nunca citou a palavra pecado nas sessões, não houve sequer aconselhamento bíblico, mas sua abordagem era tentar tranquilizar minha consciência com relação ao meu pecado. Seus conselhos na verdade eram conselhos dos ímpios (Sl 1), oriundos da psicologia secular. Se eu tivesse seguido tais conselhos, eu teria manchado meu coração, meu casamento e minha família com tanto lixo recebido ali. São pessoas que não tem condições nenhuma de aconselhar outros.

Os puritanos não lutavam contra demônios, mas contra si mesmos. A mortificação significava as obras do corpo (Rm 8:13). Mortificar significa tirar toda a força, o vigor e o poder do pecado, de modo que ele não possa agir por conta própria ou se impor na vida do crente (MACHARTHUR, MACK; 2004, p. 57).

Sem convicção/consciência do pecado não há arrependimento genuíno. O arrependimento verdadeiro é “um operar em nossos corações que produza tal pesar que torne o pecado mais odioso a nós do que a punição, até que dirijamos contra ele uma santa violência” (Richard Sibbes).

Precisamos ter o compromisso de pregar o verdadeiro evangelho de Cristo. Nosso sermão deve ser semelhante ao sermão puritano, exortando a pessoa a mortificar o pecado por meio da contrição, confissão e arrependimento. O aconselhamento deve ser bíblico, pois se ensinamos autoestima e necessidades não satisfeitas, o foco do aconselhamento é sujeitar a vontade do homem e não a imagem de Cristo. Precisamos pregar o que as pessoas precisam ouvir e não o que elas querem ouvir. Precisamos praticar a santificação por meio da teologia (reformada), e não via psicologia.

Precisamos tomar cuidado com sermões que focam somente nas histórias de Jesus, dizendo-se “cristocêntricos”, quando na verdade não passam de registros históricos sem profundo conhecimento teológico e sem aplicação imediata na vida da igreja. Isso só é possível para aqueles que andam em comunhão com Cristo, em santidade.

REFERENCIAL TEÓRICO: 

MACARTHUR, John; MACK, Wayne. Introdução ao aconselhamento bíblico: Um guia básico de princípios e práticas de aconselhamento. São Paulo: Hagnos, 2004, p. 41-63.

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