segunda-feira, 11 de junho de 2018

Ter ou não ter filhos: analisando questões como aborto, contracepção, infertilidade e adoção - (Parte 5)


Dando sequência em nossa análise sobre a questão da infertilidade hoje falaremos sobre dois métodos reprodutivos: a transferência intrafalopiana de gametas (GIFT) e fertilização in vitro (FIV).
Na transferência intrafalopiana de gametas (GIFT) realiza-se um tratamento hormonal de superovulação com medicamentos que estimulam a liberação de vários óvulos. Os óvulos são coletados por meio de um procedimento cirúrgico simples orientado por ultrassom transvaginal. O sêmen também é coletado e passa por um tratamento para reduzir a viscosidade, que facilita o processo de concepção. Os gametas são colocados juntos em um único cateter, separados apenas por uma minúscula bolha de ar e inseridos nas trompas de Falópio da mulher. O procedimento aumenta a probabilidade da concepção e início da gestação.
O princípio de avaliação deste método a ser considerado é o do respeito a vida por todos os seres humanos como portadores da imagem de Deus. Em Gênesis 1:27 vemos que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, portanto, é errado usar ou tratar alguém como um meio para um fim ou intencionalmente colocar uma pessoa inocente em situação de risco por uma simples questão de conveniência própria. Em alguns métodos de reprodução medicamente assistida (RMA) é prática comum fertilizar vários óvulos e congelar essas crianças por tempo indeterminado para serem usadas ou descartadas caso os pais resolvem não ter mais filhos. São práticas inerentemente desrespeitosas e que usam as crianças apenas como um meio para os pais alcançarem seus objetivos, não sendo apropriadas para os cristãos.
A fertilização in vitro (FIV) é bastante parecida com a GIFT em termos de procedimento técnico, mas apresenta uma distinção importante. Enquanto na GIFT a fertilização e concepção ocorre no corpo da mulher, na FIV a fertilização ocorre em um ambiente artificial (“in vitro”, lit., “no vidro”, uma referência ao tubo de ensaio ou placa de Petri onde a concepção ocorre). Como na GFIT a mulher recebe tratamento hormonal para estimular a liberação de vários óvulos que são coletados par o uso no procedimento. O sêmen também é coletado e os gametas (óvulos e espermatozoides) são colocados na mesma placa de Petri na expectativa de que ocorra o maior número possível de concepções. Depois é feita uma triagem dos embriões recém-formados por uma especialista, por meio de uma transferência embrionária (TE), que procura implantar até quatro embriões no útero da mulher para que ela fique grávida de pelo menos um. Os embriões restantes são destruídos ou congelados para futuras tentativas. Estudos incidam que 25 por cento dos embriões congelados não sobrevivem ao processo de congelamento e descongelamento pelo qual passarão antes da próxima tentativa.
O princípio de avaliação deste método é o respeito à fidelidade do vínculo conjugal. Gênesis 2:24 declara: “Portanto, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”. Foi nesse contexto (relacionamento de uma só carne) entre marido e mulher que Deus ordenou que frutificassem e se multiplicassem (Gn 1:28). A Bíblia não só condena os relacionamentos adúlteros (Êx 20:14; Dt 5:18; Rm 13:9), mas também afirma a natureza exclusiva do vínculo conjugal (Mt 19:5; 1 Co 6 e 7; Ef 5:28-31). Essas passagens bíblicas têm implicações diretas no tocante ao uso de tecnologias de reprodução, particularmente no caso de métodos que empregam material genético (óvulos de doadora, sêmen de doador, DNA de doadores) de alguma outra pessoa além do marido ou da esposa. O uso de óvulos ou sêmen de doadores corresponde ao adultério por se tratar de uma intromissão inapropriada na natureza exclusiva da fidelidade a sexualidade conjugal. Veja o exemplo de Abraão e Agar (Gn 16:1-4). 


REFERENCIAL TEÓRICO

KOSTENBERGER, Andreas J; JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o fundamento bíblico. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 138-140.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Dente quebrado, pé virado, e a deslealdade!


“Como dente quebrado e pé sem firmeza, assim é a confiança no desleal, no tempo da angústia” (Pv 25:19)

Este provérbio ensina que em um tempo de crise, a pessoa que confia em seu amigo traiçoeiro é incapaz de se defender ou de sair de uma situação difícil, pois o amigo voltará atrás em seu compromisso com a pessoa necessitada. Numa emergência, esse amigo traiçoeiro é impotente, como um dente cariado que está se desfarelando e não consegue comer. O amigo traiçoeiro também é ineficaz e dolorosamente frustrante como um pé virado na qual a pessoa não pode se firmar para andar. Os pés deveriam sustentar todo o peso do corpo, mas estão vacilando.

Por incrível que pareça um dia antes de ler este versículo, eu fui ao dentista restaurar um dente quebrado e no mesmo dia, um quarteirão de distância da minha casa, ao andar com meu filho mais novo no colo eu torci o pé na calçada e não pude sustentar o peso do meu corpo com a dor que sentia. Tive que voltar mancando e me apoiando nos muros e em qualquer coisa que eu encontrava no caminho.

Em muitas situações difíceis podemos sofrer com a dor de sermos desamparados por pessoas que até então eram nossas amigas, e no momento em que mais precisamos delas, temos de caminhar com muita dificuldade para cumprirmos o nosso chamado.

Mas há uma outra traição que aprendi com tudo isso, e ela não provém do amigo desleal, e sim da minha própria vida. Isso acontece quando eu professo crer em Deus, mas meu modo de viver trai essa lealdade. Quando meus desejos conflitam com as Escrituras eu deixo de viver de acordo com aquilo que eu creio. Todo pecado que eu cometo me ensina a acreditar em mentiras. Posso ter uma boa teologia bíblica, ter estudado credos e confissões de fé e concordar com todos eles, e posso até ensinar teologia em minha igreja, e ao mesmo tempo ser capaz de não crer nela, ou seja, isso acontece quando minha teologia prática é oposta ao que eu creio e ensino para as pessoas.

Como podemos detectar falsas crenças? Devemos observar o modo como vivemos em público e em particular. Minha forma de viver sozinho ou em público é muito diferente? Eu tenho permitido que minhas imaginações se entreguem a fantasias pecaminosas? Se a reposta for afirmativa, eu posso estar trabalhando com uma teologia alternativa que diz que em alguns lugares Deus não é capaz de me ver. Posso ter uma boa consciência de meus atos, e ainda ter declarações teológicas ortodoxas e mesmo assim não ser orientado pelas verdades bíblicas em minha vida cotidiana. Posso ser um devoto do meu próprio nome, e justificar minhas transgressões, minha ira e meu juízo para com Deus, por não conseguir me livrar dos meus hábitos escravizadores.

Concluindo, posso sofrer pela deslealdade das pessoas em tempos de crise, mas sei que não estou sozinho, pois o Senhor tem me assistido e me revestido de forças para pregar o evangelho (2 Tm 4:16-18). Também posso sofrer pela deslealdade do meu modo de viver com aquilo que professo crer, e a raiz desse problema provém de uma desordem de adoração. São desejos que dominam meu coração com intuito de agradar a mim mesmo, e isto se chama idolatria (1 Co 6:19-20). Compreender a causa do problema não significa que ele será solucionado. Agora é preciso se arrepender, e começar a despir do velho homem que se corrompe pelas concupiscências do engano, e me revestir do novo homem que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade (Ef 4:22-24).

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Agradando a si mesmo: Lidando com a raiz dos vícios



Os vícios são tudo aquilo que fazemos com uma forte ênfase de agradar a nós mesmos acima de todas as coisas. A Bíblia chama de idólatra aquele que procura agradar a si mesmo mais do que procura agradar ao Senhor.

Um ídolo é qualquer desejo que se torna uma exigência consumidora que domina o nosso coração; é algo que pensamos que precisamos para sermos felizes, realizados ou seguros. Em outras palavras, é algo que amamos, tememos ou no qual confiamos (SANDE; RAABE, 2011, p. 46).

A idolatria é um desejo pecaminoso no coração do viciado de agradar a si mesmo. A idolatria pega um desejo que pode ser bom ou ruim e o transforma em exigência. A mente de um viciado geralmente deseja duas coisas: desfrutar de prazer ou fugir da dor. A satisfação do desejo viciante é apenas temporária, e já que a sua satisfação não é duradoura, o viciado haverá de querer satisfazer seu apetite repetidas vezes. Tais desejos de experimentar prazer não satisfeitos o dominam, aí a procura por prazer o domina, e ele acha que tal satisfação temporária trará felicidade (SHAW, 2017, p. 20).

A raiz do problema para o vício é em última análise uma desordem de adoração. Hábitos escravizadores vão muito além de nossa constituição genética. Muitas vezes aprendemos a crer em Deus e ensinamos sobre Ele, porém, nem sempre queremos que sua verdade oriente nossas vidas. Quando nossos desejos conflitam com as Escrituras deixamos de viver de acordo com aquilo que dizemos crer. Podemos dizer que cremos em uma coisa, mas nossa vida trai essa lealdade. Todo pecado que cometemos nos ensina a acreditar em mentiras. A pessoa viciada se sente fora de controle, presa e sem esperança de libertação. Algo ou alguém além do Deus vivo o controla, e este objeto controlador lhe diz como deve viver, pensar e sentir (WELCH, 2015, p.16-32).

As Escrituras enfatizam o sexo, a comida e o álcool como os tipos mais comuns de vício, mas esta lista de controladores está crescendo:


Álcool
Apostas
Cafeína
Ira
Remédios nasais
Furto a lojas
Amor
Cocaína
Mentira
Musculação
Trabalho
Chocolate      
Dormir
Esporte
Perigo
Nicotina
Açúcar
Sucesso/Conquistas
Dor
Pessoas
Pornografia    
Exercício Físico
Sexo   
TV

Estas substâncias descritas como viciantes proporcionam uma experiência corporal. Com elas nos sentimos mais alertas, mais calmos, menos tímidos, ou mais poderosos. Esses hábitos escravizadores produzem experiências corporais de maneira rápida, e muitas vezes funcionam em poucos segundos, por isso uma pessoa raramente se vicia em vitaminas que levam meses de uso contínuo para produzir mudanças mensuráveis. Aquilo que orienta o vício está no coração da pessoa (WELCH, 2015, p. 32-33).

Estes vícios fornecem alívio e prazer temporários. Quando o alívio termina, o desejo torna-se uma exigência na mente do viciado que via de regra não se satisfará até obter novamente o mesmo escape. A procura por tal prazer idólatra leva uma pessoa a começar a julgar o próximo. Seu comportamento revela ausência de amor e interesse genuínos para com o próximo. Sua conduta passar a ser assim: “Se você me ama, você, mais do que todas as outras pessoas, vai me ajudar a conseguir o que eu desejo”. O viciado julga aqueles que não lhe ajudam a satisfazer seus desejos idólatras, ele se torna uma pessoa extremamente centrada em si mesma e difícil de agradar. Ele deseja somente um relacionamento unilateral: “Eu recebo e você me dá o que eu quero”. Você será visto como um objeto e não como uma pessoa. O viciado raramente pensa nos outros (SHAW, 2017, p. 20-22).

Quando você ajuda uma pessoa viciada a obter seu prazer você se torna um “possibilitador”. Existem “possibilitadores” que gostam desse tipo de relacionamento. O “possibilitador” também se torna um idólatra, quando faz qualquer coisa para obter atenção do viciado por causa de um desejo por relacionamento, que não é saudável. Ele aceita qualquer tipo de relacionamento com o viciado (por causa do medo de rejeição), até mesmo aquele destrutivo tanto para um quanto para o outro, pois deseja estar no controle ou se sentir no controle da vida do viciado. O “possibilitador” quer ser um “deus” para o viciado, algo ofensivo ao nosso Santo Deus Criador. Geralmente esse tipo de atitude é encontrado nos cônjuges e nos pais que desejam controlar seus viciados descontrolados.  Ao possibilitar um viciado a praticar idolatria, você se torna parte do problema (SHAW, 2017, p.24-25). A essa altura, você também está pecando (Ef 5:11).

“Não participem das obras infrutíferas das trevas; antes, exponham-nas à luz” (Efésios 5:11 – NVI).

Devemos expor os feitos inúteis do mal e das trevas que o viciado está cometendo como manipulação e mentira. Mas precisamos estar preparados, pois assim que cobrarmos do viciado que seja responsável pela sua conduta, ele irá manifestar ira, raiva, ressentimento, frustração, fúria e amargura. Ele agirá como uma criança de três anos que recebe um “não” quando pede um doce.

Um marido pode dizer que ama sua esposa, mas suas ações revelam que ele ama seus hábitos pornográficos e seus relacionamentos adúlteros. Um pai (ou uma esposa) pode dizer que ama seus filhos e ainda afirmar ser um seguidor de Jesus Cristo, mas suas ações revelam que ele é um seguidor de seus próprios desejos, pois quando enfrenta problemas ele busca relacionamentos extraconjugais, bebidas e cigarros para satisfazer seu coração.

É preciso haver uma confrontação em amor, conforme Mateus 18:15-17 ensina. O viciado que deseja continuar vivendo de maneira desregrada está pecando contra Deus e contra você. Deus ordenou que a igreja resolva o conflito quando um cristão peca contra o outro. Se há algo que a igreja deva se preocupar, é com a reconciliação dos cristãos em seus relacionamentos uns com os outros (1 Pe 5:2-3). A igreja mais excelente que você possa pertencer é a interessada em reconciliar incrédulos a um relacionamento correto com Deus e reconciliar cristãos a um relacionamento correto uns com os outros (SHAW, 2017, p.40).

Os princípios encontrados em Mateus 18:15-17 são para ajudar os membros da igreja a obedecerem a Deus, não se trata de medidas punitivas, mas de medidas restauradoras, projetadas pelo Senhor e implementas pelos líderes da igreja. No verso 15 o primeiro passo descrito por Jesus é que você vá sozinho até o viciado amado para chamar sua atenção ao erro em particular, se ele te ouvir, então você poderá ajudá-lo. Porém, se ele não te ouvir, aí você terá que partir para o segundo passo, no verso 16 Jesus diz que você deve chamar um ou dois irmãos para confrontar o viciado pecador e egoísta que professa a Jesus Cristo como Salvador. Entretanto, se o viciado ainda continuar demonstrando descaso em lhe ouvir, então você deve tomar o terceiro passo, ou seja, levar o problema aos líderes da igreja e caso ele ainda continue relutante sem se arrepender, ele será disciplinado podendo até em último caso se excluído (1 Co 5:11; Tt 3:10). Se a pessoa não for membro de uma igreja local, então a disciplina bíblica não se aplica. Nesse acaso existe outra alternativa, você poderá entrega-lo ao governo (Dt 21:18-21). Deus deu autoridade para o governo punir transgressores.

Se o viciado relutante e não arrependido age como um descrente que não ama ao Senhor Jesus Cristo, é possível julgar por meio dos frutos das ações dele. Há duas maneiras de lidar com o viciado que zomba de suas regras e ainda continua usando seu dinheiro para financiar sua conduta viciada:
  • ·         Sair voluntariamente (Lc 15:11-32)
  • ·         Ser mandado embora (Pv 22:10)
O viciado pode sair voluntariamente de sua casa conforme a parábola do filho perdido em Lucas 15:11-32 ou você terá que mandá-lo embora conforme está em Provérbios 22:10: “Mande embora o zombador e cessarão as brigas; não haverá mais contenda nem insultos”. Infelizmente ele irá gastar tudo que tem, assim como o filho pródigo. Ele irá para uma terra distante, e quando não tiver mais ninguém para poder “parasitar”, e começar a passar necessidades, ele se lembrará de que tinha tudo na casa de seu pai. Mas, enquanto você e outros ajudarem o viciado com dinheiro, abrigo, roupas ou até mesmo alimento ele continuará preguiçoso e egoísta. No verso 15 de Lucas 15, depois de perder tudo, o filho perdido se aproxima de um fazendeiro em busca de apoio financeiro, pois naquele momento “ninguém lhe dava coisa alguma”. Seu relacionamento com o fazendeiro não foi o que ele esperava, pois, ao cuidar dos porcos ele passou a querer comer daquilo que eles se alimentavam (v.16). O viciado precisa experimentar consequências temporárias dolorosas. Até que o viciado se arrependa, há muito pouco que você, particularmente, possa fazer. Mas, se ele se arrepender verdadeiramente e procurar ajuda, devemos estar prontos para recebê-lo de volta a ajuda-lo a firmar seus passos. Nesse caso começará um trabalho árduo na recuperação do viciado, e não estou falando de centros de “tratamento” ou de “reabilitação” que ensinam ideias humanistas, egoístas e centradas no homem. Estes programas de tratamento tendem a ser um ambiente seguro, estéril e irreal. Normalmente, é questão de tempo até que o viciado relutante que concluiu o tratamento e que agora encontra-se “limpo e sóbrio” retorne ativamente ao vício.

Se o vício ou o hábito escravizador é em sua essência uma idolatria, ou seja, uma desordem de adoração, isso se relaciona diretamente com Deus. Então, a solução do problema passa pela cruz de Cristo, pela Palavra de Deus, pela submissão, arrependimento, confissão, entrega pessoal ao Senhor e renúncia. Falaremos mais sobre isso em outro momento, até lá.


REFERENCIAL TEÓRICO

SANDE, Ken; RAABE, Tom. Os Conflitos no Lar e as Escolhas do Pacificador: Um guia para lidar com as crises na família. São Paulo, Nutra, 2011.

SHAW, Mark E. Intervenção Divina: Esperança e Socorro para famílias de dependentes químicos. Eusébio: Peregrino, 2017.

WELCH, Edward T. Hábitos Escravizadores: Encontrando esperança no poder do Evangelho. 2. ed. São Paulo: Nutra, 2015.

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