quinta-feira, 12 de julho de 2018

Afinal, depressão é uma doença?


Nos últimos 200 anos, o diagnóstico de transtornos mentais tem sido muito mais uma questão de opinião profissional do que uma definição por meios objetivos. Muitas dessas opiniões oferecem rótulos de vários nomes como insanidade circular, psicose cicloide e excitação circular sem evidências objetivas como testes laboratoriais e radiografias. Os diagnósticos de “transtornos de humor” também eram feitos usando o histórico do comportamento do paciente e seu histórico familiar (HODGES, 2015, p.32,164).
Transtorno de humor, incluindo depressão e transtorno bipolar, tem ocupado o lugar central nos cuidados de saúde nos EUA desde a década de 80, e no Brasil também não tem sido muito diferente, pois segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão atinge 5,8% da população brasileira. O diagnóstico da depressão é subjetivo, ou seja, não há testes de laboratório ou de raios-x que possam diagnosticar a depressão. O que nós temos são critérios que devem ser satisfeitos, com uma série de sintomas que precisam ser apresentados a fim de que se faça um diagnóstico de depressão. Esses critérios são encontrados no Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais conhecido pela sigla DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disordes).
Para que uma pessoa seja diagnosticada com depressão, ela precisa apresentar cinco ou mais desses critérios listados abaixo, e eles devem estar presentes por pelo menos duas semanas e devem representar uma diferença no comportamento de uma pessoa (DSM-5, p.160).
A lista, de acordo com o DSM-5 (Transtorno Depressivo Maior) inclui:

1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.)
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.)
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação.

O problema do Transtorno Depressivo Maior é que, na prática, esta abordagem diagnóstica não possui a acuidade de um teste de glicose no sangue ou de um rápido exame bacteriológica. Há afirmações subjetivas sendo feitas, tanto por pacientes, como por profissionais de saúde (HODGES, 2015, p.27). Segundo Parker (2008, p.328, apud HODGES, 2015, p. 27) este diagnóstico de depressão “inclui-se a falta de um modelo de diagnóstico confiável válido”. Para se enquadrar você só precisa dizer ou relatar que tem experimentado tristeza por um período de duas semanas, que tem se sentido muito para baixo e outros mais. Segundo Hodges:

O problema com estes critérios como ferramenta de diagnóstico é que eles incluem sensações e experiências que quase todas as pessoas têm no curso normal da vida. Coisas extremamente normais que são indicadores de uma doença, segundo esses critérios (HODGES, 2015, p.28).

Conforme foi escrito num artigo de março de 2010 no Jornal Americano de Psiquiatria (American Journal of Psychiatry), Wakefilde concluiu quem uma pessoa normal que foi submetida a séries perdas pode desenvolver um estado de depressão que poderia perdurar por mais de suas semanas sem ter uma doença que exigisse tratamento (2010, apud HODGES, 2015, p.28). O problema do teste é que não somente os critérios são defeituosos, mas a maioria dos médicos não se utiliza deles ao diagnosticar a depressão (HODGES, 2015, p. 29). Os pacientes estão se arriscando a receber um diagnóstico que poder ser impreciso, levando-o a um tratamento que não ajudará.

DOENÇA OU NÃO?

Há um número de doenças, reais e sérias, que vem acompanhadas de transtornos de humor, dentre elas o hipotireoidismo e o hipertireoidismo, o câncer de pâncreas, o baixo nível de potássio ou hipocalemia são alguns deles. Como também existem problemas sérios na vida que afetam nosso estado de humor, mas que nada tem a ver com doença. Quando decidimos que nossa dor, sofrimento, tristeza, ou preocupação, são causados por disfunção médica, nossas opções se limitarão aos remédios.
A Bíblia fala sobre três tipos de tristezas, sendo que duas são espirituais em sua natureza, e uma física. Vejamos:

  • ·         Tristeza piedosa que conduz à vida
  • ·         Tristeza mundana que conduz a morte
  • ·         Tristeza que não é espiritual, mas física (Exemplo: Hipotireoidismo)

Primeiro, a tristeza piedosa que conduz a vida deve ser encorajada, pois ela é focada em Cristo (2 Co 7:10). No sermão do Monte, Jesus disse: “Felizes os pobres de espírito, pois o reino dos céus lhes pertence” (Mt 5:3). Jesus está falando sobre pessoas pobres de espírito, ou seja, quer chamemos isso de melancolia, angústia ou depressão, há uma categoria de pessoas tristes que não são julgadas por Jesus, mas sim honradas e a quem Ele prometeu uma recompensa (LAMBERT, 2017, p. 53). Esse tipo de tristeza que Jesus está mencionando aqui é a angústia para com o pecado, mas a dor aqui é digna de louvor. Segundo, a tristeza mundana que conduz a morte é a dor focada na própria pessoa e nas coisas do mundo, e não em Deus (2 Co 7:10). A dor mundana é ruim, e precisa ser repreendida. Terceiro, a tristeza que não é espiritual, mas física deve ter um cuidado físico. Por exemplo: se uma pessoa possui um problema chamado hipotireoidismo, a tireoide não produz hormônio suficiente. Isso gerará sentimentos de tristeza, mas isso não é culpa da pessoa que enfrenta o problema. Ela possui uma debilidade física para a qual precisa de uma ajuda médica (LAMBERT, 2017, p. 53-54). Nesse caso a Bíblia nos chama a ajudar o fraco (1 Ts 5:14).
Patologia é definida como o estudo da natureza essencial das doenças. Nenhuma doença existe no corpo humano sem alguma espécie de mudança no nível celular, o que resulta numa função anormal (HODGES, 2015, p.38). O dicionário define doença como “condição patológica de uma parte, órgão, ou sistema de um organismo resultante de várias causas, tais como infecção, defeito, ou estresse ambiental, e caracterizado por um grupo identificável de sinais ou sintomas” (American Heritage Dictionaary). Patológico aqui significa que quando parte do corpo é examinado por algum meio objetivo, pode-se observar uma alteração no tecido. Doença é mais bem definida por meios objetivos. Uma dor de cabeça pode indicar um tumor no cérebro e uma tomografia computadorizada pode mostrar isso, porém veja o que o DSM-5 diz:

Embora exista ampla literatura descrevendo correlatos neuroanatômicos, neuroendócrinos e neurofisiológicos do transtorno depressivo maior, nenhum teste laboratorial produziu resultados de sensibilidade e especificidade suficientes para serem usados como ferramenta diagnóstica para esse transtorno (DSM-5, p.165).

Em outras palavras, nenhum exame físico é específico para o diagnóstico de depressão. Mesmo que exista doenças que ainda não possam ser definidas por patologia, a maioria pode. Muitos exames não são suficientemente sofisticados para diagnosticar as causas de uma doença. Via de regra, empregamos os termos “síndrome” e “transtorno”, quando estamos tratando de um problema físico, mas não podemos identificar as células que causam o problema.
A psicologia secular ou a própria medicina não tem poder para ajudar as pessoas com problemas mentais quando a natureza delas é espiritual. Ira, cobiça, ansiedade e egoísmo são todos problemas que a psiquiatria trata com medicamentos, porém Deus chama essas coisas de pecado (Ef 4:26; Êx 20:17; Fl 4:6; Mt 6:25; Gl 5:19-21). A rebeldia de uma criança ou adolescente é chamada de Transtorno de oposição desafiante, porém Deus chama isso de pecado (Êx 20:12; Ef 6:1-3). Questões espirituais devem ser tratados como categorias morais que a Bíblia endossa e condena. Questões físicas e orgânicas devem ser tratadas como categorias amorais para as quais a Bíblia não pronuncia um veredito ético (Exemplo: mal de Alzheimer).
Por isso a importância de uma antropologia bíblica para se tratar a depressão, angústia e dor. A psicologia não acredita que somos seres espirituais e responsáveis, ou seja, seres humanos com um corpo e alma que prestarão contas para um Deus soberano.
Assim como as teorias da psicologia secular são teorias que não tem comprovação científica, a depressão também é uma teoria sem comprovação científica. Numa pesquisa que examinou quarenta e sete estudos de antidepressivos, pesquisa conduzida por laboratórios médicos, foi descoberto que oitenta e dois por cento dos benefícios da medicação, eram de placebo. Em mais da metade dos estudos publicados os antidepressivos não produziam efeito melhor do que o placebo no tratamento da depressão (BEGLEY, 2010 apud HODGES, 2015, p 49). O que isso significa? Se um comprimido de açúcar pode “curar” a doença tão bem quanto a droga real em oitenta e dois por cento dos casos, o resultado é um grande desafio ao argumento de que a depressão seja uma doença. Uma conclusão segura a que se pode chegar é que quando você toma um medicamento e melhora, não necessariamente significa dizer que você tenha uma doença. Haveria então algum lugar além da medicina, onde pudéssemos buscar esperança para pessoas com transtorno de humor? Claro que sim, e este é o objetivo deste artigo.

CONFUNDINDO TRISTEZA COM DEPRESSÃO

Em nossos dias, médicos, psicólogos, e a sociedade em geral, tem confundido tristeza com depressão. Quando fazemos isso perdemos nossa habilidade de responder à tristeza de modo a transformá-la numa emoção produtiva que resulte em mudança útil.
Segundo Seligman (1992, apud HODGES, 2015, p.152):

Uma das causas da depressão é a tendência de magnificar os efeitos dos obstáculos. Na medida em que você vê uma falha como algo que perdura e que você magnifica ao ponto daquilo permear toda sua vida, você está inclinando a permitir que um problema momentâneo se torne um motivo de falta de esperança. Mas você tem uma perspectiva maior, como a fé em Deus e na vida eterna, e você perde, por exemplo, seu emprego, aquilo não passa de um transtorno momentâneo.

O maior problema da rotulação é que desistimos de procurar uma resposta para o nosso sofrimento. Uma vez rotulados, temos a resposta. O rótulo determina como reagiremos ao nosso problema.
A tristeza não precisa necessariamente ser vista como um transtorno, pois um problema físico, uma perda de um ente querido, de um emprego, ou o fim de um namoro causam tristeza. A “tristeza normal” é o que acontece à maioria de nós. A tristeza também pode ser vista como um presente de Deus, enviada às nossas vidas para fazer coisas que não poderiam ser feitas de outra maneira. Neemias se entristeceu visivelmente quando o rei notou sua expressão facial. Seu rosto triste, e seu coração ainda mais triste, eram um resultado direto de uma perda pessoal. Seu lar, Jerusalém, estava em ruínas (Ne 2:2-5). A extensão de sua tristeza era proporcional ao tamanho do problema.
O sofrimento faz parte da vida do crente (2 Tm 3:12; 2 Co 4:16-18; 1 Pe 14:12,13; Jo 16:22). Existem três causas para o sofrimento:

  • ·         O pecado pessoal
  • ·         O pecado dos outros
  • ·         O mundo corrompido pelo pecado

Primeiro, Deus deixa claro que nós somos responsáveis pelos nossos atos, e não podemos transferir a outros a responsabilidade do sofrimento que provém do nosso pecado pessoal (Tg 1:13-15). Segundo, nem todo tipo de sofrimento é originado por um pecado pessoal, às vezes, sofremos por causa do pecado dos outros (1 Pe 2:19-24). Terceiro, as vezes sofremos por causa de desastres naturais, pois este mundo está marcado pelas cicatrizes do pecado (Rm 8:20-22).
No livro de 1 Samuel 1 vemos outro exemplo de tristeza como resultado de um sério problema. Ana viveu anos num lar onde seu marido tinha outra esposa. A outra mulher era fértil, tinha filhos, e Ana não podia ter filhos. Com o passar dos anos, a tristeza de Ana crescia (1 Sm 1:9-11). Por anos ela ainda suportou as provocações de sua rival. Na maioria das clínicas de nossos dias, Ana seria tratada como uma pessoa doente. O diagnóstico de Ana seria: Depressão.  
Ana, Neemias, José e tanto outros personagens do Antigo Testamento dão vida às palavras de Paulo em Romanos 8:28-29: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.
Eles sofreram perdas. Cresceram com as perdas e os sofrimentos. Deus foi glorificado, e muitas bençãos vieram como consequência.

EM BUSCA DA ESPERANÇA

Nos dias terrenos de Jesus certa mulher sofria com um problema de saúde que a tecnologia médica disponível não poderia curar. Em vez de ter um simples ciclo menstrual mensal, ela tinha uma hemorragia que já se arrastava por doze anos (Lc 8:43-44). Ela havia gastado todo seu dinheiro com médicos durante longos anos e seu estado estava cada vez pior. Ela encontrou auxílio que somente Jesus poderia dar. Ela tocou a orla da veste de Jesus e seu sangramento foi estancado. A doença que invalidara sua vida por doze longos anos, fora curada num instante pelo Deus que a criara.
Há esperança para os que não têm encontrado ajuda, por mais diligentemente que tenham procurado. Da mesma maneira que Jesus se preocupou com uma pobre mulher que tinha um problema médico não tratado, ele também se importa conosco quando sofremos. Assim como Deus tinha um plano para Israel quando esta nação sofria o exílio Babilônico, Jesus se importa com você. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Je 29:11). Devemos enfrentar a tristeza e nossas perdas na vida à luz das Escrituras. Não podemos consignar as pessoas às cisternas rotas dos diagnósticos e curas questionáveis, quando está em nosso poder oferecermos a elas a água viva de Deus.
Busque ajuda com conselheiros bíblicos. O aconselhamento bíblico consiste em ministrar as Escrituras àqueles que enfrentam problemas ou que desejam a sabedoria e a orientação de Deus. O aconselhamento bíblico está baseado na convicção de que as Escrituras são suficientes para a tarefa de aconselhar e superiores a qualquer outro material que o mundo tenha para oferecer (2 Tm 3:16,17; Hb 4:12; 2 Pe 1:3,4; Sl 119; Tg 4:4). O aconselhamento bíblico é um ministério da igreja local no qual os crentes em Cristo, habilitados, capacitados e guiados pelo Espírito Santo (Jo 14:26), ministram a outros a Palavra viva e ativa de Deus buscando evangelizar os perdidos e ensinar os salvos (BABLER; ELLEN, 2017, p. 89).

REFERENCIAL TEÓRICO

HODGES, Charles D. Depressão e Transtorno Bipolar: Ajuda e esperança para o enfrentamento eficaz. Eusébio: Peregrino, 2015.

LAMBERT, Health. O evangelho e as doenças da mente. Eusébio: Peregrino, 2017.

BABLER, John; ELLEN, Nicolas. Fundamentos teológicos do aconselhamento bíblico e suas aplicações práticas. São Paulo: Nutra, 2017.

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