sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Pedir perdão em vez de pedir desculpas


Pedir desculpas é bíblico? Não! Pedir desculpas não resolve completamente a ofensa, pois duas pessoas podem sair de uma conversa sem saber se a questão foi resolvida. Já o perdido de perdão envolve um determinado compromisso de que aquela ofensa não será mais lembrada, nunca mais voltará à tona.

O que significa perdoar?
Nós somos ordenados a perdoar (Ef 4:32). Deus diz: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro” e “perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Is 43:25; Jr 31:34).

Então, será que Deus sofre de amnésia?
Claro que não! Deus é onisciente (conhece tudo), Ele sabia dos meus pecados até mesmo antes de cometê-los. Quando a Bíblia fala de Deus “esquecer” nossos pecados, refere-se ao fato de que quando uma pessoa é realmente perdoada por Deus, Ele não os guarda para usar contra o pecador perdoado. Ele não os coloca em nossa conta. Em vez disso, Deus coloca na conta do Senhor Jesus Cristo, que morreu na cruz para pagar o preço da penalidade dos pecadores culpados como você e eu. Sua morte foi substitutiva, ou seja, Ele morreu para levar o castigo pelo nosso pecado para que nós, sendo pessoas salvas possamos ser creditados com a sua justiça. Quando cremos verdadeiramente no evangelho, Deus promete não utilizar nossos pecados contra nós, em vez disso Ele atribui a perfeita justiça de Seu filho em nossa conta (PRIOLO, 2011, p.86-87).

Da mesma maneira que Deus nos perdoou em Cristo, nós devemos prometer (assumir compromisso) que não ficaremos relembrando os pecados daquela pessoa que nos ofendeu, pois ela se arrependeu e pediu nosso perdão.

Quando perdoamos alguém, nós fazemos os seguintes compromissos (SANDE; RAABE, 2011, p.125):
  •  Eu não pensarei mais sobre a ofensa
  • Eu não mencionarei mais a ofensa e não a usarei contra você
  • Eu não falarei a outras pessoas sobre a ofensa
  • Eu não permitirei que a ofensa fique entre você e eu ou que prejudique o nosso relacionamento

Como deve ser o pedido de perdão?
Evite se, mas ou talvez quando confessar seus pecados a Deus ou quando for pedir perdão para alguém. A verdadeira confissão não permite dúvida nem indefinição. Dizer: “Sinto muito se o magoei” é o mesmo que dizer que não sei qual foi meu erro com a outra pessoa, e é bem provável que volte a fazer. Dizer: “Sinto muito por ter feito isso, mas se você tivesse agido de outra forma...” é o mesmo que eu dissesse que a responsabilidade do conflito não foi minha, mas do outro. O pecado foi culpa dele e não minha. A inserção de um “mas” nega virtualmente a confissão. Os pedidos de desculpas com “mas” transferem a culpa e declaram que nossos erros não são plenamente nossa culpa. Devemos ser específicos por admitir nossos erros. Uma confissão específica revela não apenas consideração, sinceridade e pesar, mas também estabelece um plano específico para mudança (JONES, 2014, p.142).

Mas, e se alguém me ofender e não pedir perdão?
Existe uma dinâmica do evangelho de Mateus 5 e 18 que o mundo “desconhece”, mas Cristo nos ordenou para praticarmos. Quando nós ofendemos alguém, nós devemos agir (Mt 5:23-26); quando alguém nos ofende, nós também temos que agir (Mt 18:15,16). Em ambos os casos, Jesus nos chama a dar o primeiro passo em busca da paz com os outros.

Mesmo que dermos o primeiro passo, não sabemos como será o resultado, ou seja, se a outra pessoa irá ou não se arrepender. Nesse caso, devemos perdoar aos ofensores que não se arrependem? Deus ordenou que eu perdoe àquela pessoa que pecou contra mim, ainda que ela não se arrependa? Robert Jones (2014, p.193-194) nos oferece uma resposta dupla para estas perguntas: sim e não! Ele trabalha o perdão em dois níveis:
  • Nível 1: Perdão aparente em nossas atitudes, em nossa disposição, em nosso coração (incondicional)
  • Nível 2: Perdão decidido, concedido, ligado aos nossos relacionamentos (condicional)
De acordo com o nível 1, devemos ter disposição em nosso coração para perdoar aqueles que nos ofendem e tratá-los com essa disposição (Mc 11:25). Por outro lado, de acordo com o nível 2, a ofensa é trabalhada como prioridade de restauração do relacionamento, ou seja, há uma reconciliação marcada pelo arrependimento do ofensor e pelo perdão concedido pela parte ofendida (Lc 17:3,4). Quando Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34ª), Ele evidenciou uma atitude de perdão no coração para com os seus ofensores, de acordo com o nível 1. Porém, Jesus não declarou que eles estavam perdoados. Essa foi uma oração que revelou o coração misericordiosos de Jesus. A oração de Jesus não foi respondida completamente, pois sabemos que várias pessoas se arrependeram e creram, porém, muitas continuaram endurecidas. Em Atos 2:38, vemos o apóstolo Pedro oferecendo perdão condicional de Deus aos seus ouvintes judeus: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados”. Este é o nível 2.

Resumindo, aprendemos com Jesus sobre seu ensinamento em Marcos 11:25 e sua oração em Lucas 23:34 uma atitude de perdão para com os seus adversários, um perdão nível 1. Entretanto, a repreensão de Pedro em Atos 2:38, dirigida aqueles que haviam matado Jesus e seguida do arrependimento deles e do perdão de Deus, segue o padrão de Lucas 17:3-4, um perdão nível 2.

Portanto, se uma pessoa me ofender e não pedir perdão, eu irei dar o primeiro passo para reconciliação, mas se ela não se arrepender, não haverá restauração do relacionamento, com isso, eu terei de ter disposição em meu coração de perdoá-la e interceder por ela, conforme nível 1, mas, não poderei assumir o compromisso do perdão nível 2, de que a ofensa não será mais lembrada, pois não houve reconciliação marcada pelo arrependimento do ofensor. Isso não significa que ficarei toda hora lembrando a pessoa de sua ofensa, de maneira alguma (seguir princípios de Mt 18:15-17), a questão aqui, é deixar claro que não poderei assumir um compromisso com alguém que não se arrependeu, da mesma maneira que Deus perdoa o pecador com a condição do arrependimento.

REFERENCIAL TEÓRICO

PRIOLO, Lou. Maridos Perseguindo a Excelência: Princípios bíblicos para maridos que almejam o ideal de Deus. São Paulo: NUTRA, 2011.

JONES, Robert. D. Em busca da paz: Princípios Bíblicos para lidar com conflitos e restaurar relacionamentos quebrados. São Paulo, NUTRA, 2014.

SANDE, Ken; RAABE, Tom. Os Conflitos no Lar e as Escolhas do Pacificador: Um guia para lidar com as crises na família. São Paulo, NUTRA, 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu filho tem dificuldades em prestar atenção?

Prestar atenção é uma habilidade difícil para todas as crianças. Dar nossa atenção corretamente é uma luta normal. Embora seja uma luta co...