segunda-feira, 29 de abril de 2024

O perigo da assimilação: Conformidade e isolamento – (Ester 2)

Em Ester capítulo 2 vemos dois personagens que viviam na cidade de Susã na Pérsia. O judeu Mordecai e sua sobrinha órfã Ester. O nome hebraico de Ester é Hadassa que significa murta, uma plantinha. O nome persa Ester significa “estrela” e provavelmente está ligado à divindade Ishtar, uma deusa pagã do amor e da guerra.

Talvez Hadassa seja o nome que seus pais lhe deram e Mordecai tenha lhe dado um nome mais persa para se viver com mais tranquilidade ali. Mordecai está bem assimilado na casa da Pérsia e orienta Ester esconder sua identidade judia.

Assimilação é uma adaptação a uma cultura a ponto de se deixar de lado a identidade em Cristo para se viver uma suposta paz. O medo e assombro com os poderosos deste mundo nos levam a assimilação.

Ester também está bem assimilada na casa da Pérsia. Depois que a rainha Vasti desonrou publicamente o Rei Assuero ele decidiu arrumar uma substituta. Nesta busca por uma nova rainha por todo o império ele impõe algumas qualificações para a pretendente: virgem e bonita, e ainda passará por um processo de embelezamento por 12 meses.

Não é um concurso de beleza, jovens serão arrancadas de suas famílias e levadas para fazer parte do harém do rei Assuero para sempre. Ele vai dormir com todas elas, queiram elas ou não. Pouco mais do que uma escrava sexual.

Mordecai age de um jeito estranho para o que a gente espera do povo de Deus. Ele não parece tentar impedir que Ester seja levada. Como pai talvez fosse a atitude esperada. Ester age rápido e alcança o favor de todos, inclusive do eunuco Hegai.

Hegai é o responsável pelo harém do rei Assuero e Ester sabe disso. Ela se esforça para se fazer queridinha dele, e consegue. Ela boa no jogo do poder, da sedução e da beleza. Ela passa uma noite com o rei e ganha seu coração. Será a nova rainha.

Diferentemente de Daniel e seus amigos na Babilônia que decidiram não se contaminar recusando fazer o que o rei havia mandado para não perderem sua identidade a ponto de serem lançados na cova dos leões ou para a fornalha ardente, Ester parece não resistir, nem sequer pensa em escapar de um casamento com um rei pagão. 

Infelizmente nós sacrificamos nossa liberdade e alegria facilmente em troca daquilo que parece ser seguro. O pior é que fazemos isso voluntariamente, não é preciso que alguém nos obrigue.

Muitas vezes vivemos assim para avançarmos na vida. Escondemos nossa identidade para sobreviver na Pérsia. Deixamos Hadassa na igreja e vivemos como Ester os outros dias. Se ela não fosse lindíssima ela não seria escolhida. A beleza física abre portas. A assimilação é mais fácil quando se tem as características que este mundo gosta.

Que aspectos da nossa identidade cristã estamos dispostos a esconder para avançarmos nesta vida? Talvez nossa carreira, nosso círculo de amizades esteja avançando com um volume bem baixinho da nossa fé de Hadassa pelo grande embelezando de Ester.

Vivendo neste mundo somos tentados em duas direções: conformidade e isolamento. Na conformidade a assimilação ocorre. É neste momento que adotamos a cosmovisão, a ética e forma de vida da cultura. No isolamento nós nos fechamos e nos protegemos. São dois caminhos fáceis.

É fácil se conformar e ser recompensado por isso. O problema é que esses dois caminhos levam ao fracasso. A assimilação é uma falha em nossa ousadia e resistência, e o isolamento é uma falha em nossa coragem de agir e amar. 

Precisamos de coragem para resistir mesmo que isso resulte em cova dos leões. Tem dias que é mais simples não resistir, simplesmente viver como um persa e esconder nossas crenças.

Somos mais parecidos com Mordecai e Ester do que com Daniel. Ficamos impressionados com os poderosos deste mundo. O poder destes homens é temporário e eles são generosos com os seus súditos até serem contrariados.

Não tenhamos vergonha de nos identificarmos com Cristo e com os que são dele. Pare se esconder e tenha coragem de dizer: “não me curvarei mais diante dos poderes deste mundo”. Não mais, pelo Senhor e pelo meu povo, a igreja.

A boa notícia é que mesmo que tentem controlar nossas ações eles não podem, em última instância, controlar nossos corações. Os grandes reis deste mundo gostam de mostrar sua falsa glória através de riquezas, ostentação, crueldade, festas etc.

Ao contrário destes, temos um grande Rei que é pelos seus. Ele é bom e manso. Espere para ver o que ele está para fazer, pois este mundo é seu, e todo joelho se dobrará diante dele e confessará seu nome.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

GAROFALO NETO, Emílio. Ester na casa da Pérsia: e a vida cristã no exílio secular. São José dos Campos, Fiel: 2021.

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