terça-feira, 27 de setembro de 2022

A ira e o ressentimento são um disfarce para o medo e um meio de procrastinar nossas responsabilidades como a misericórdia e o perdão

 

A ira diz: “Você está errado, eu estou certo”. A ira é um disfarce para o medo (Ed Welch). Quando lemos o livro do profeta Jonas, vemos ali que o maior medo de Jonas era que Deus concedesse o perdão ao inimigo mais odiado de Israel antes da Babilônia, ou seja, a Assíria. Quando o livro de Jonas foi redigido, essa cidade era símbolo de crueldade, de violência e de hostilidade contra o povo de Deus.

 O medo e o desejo são dois lados de uma mesma moeda, por exemplo, se uma pessoa deseja dinheiro, terá medo da pobreza. Se ela almeja ser aceita, ficará aterrorizada com a rejeição. Se uma pessoa teme a dor e o sofrimento, terá desejo por conforto e prazer. Se ela deseja ser superior, terá medo de ser inferior aos outros. No caso de Jonas vemos que o conforto era algo que ele desejava e se alegrava muito (Jn 4:6), isso significa que o medo da dor e o sofrimento eram também algo que ele temia. Este também por ter sido outro motivo de sua fuga para Társis ao invés de ir para Nínive como Deus ordenou (Jn 1:3).

 A ira é a maneira que muitas pessoas lidam com o medo para poder obter o controle sobre as pessoas e as circunstâncias. Muitas vezes deixamos de cumprir nossas responsabilidades porque na preguiça nos tornamos escravos do nosso conforto pessoal. O medo faz com que pensemos no futuro de modo pessimista, por isso ficamos escravizados em um futuro terrível, fugindo de nossas responsabilidades. Muitas vezes deixamos de cumprir nossas responsabilidades porque as coisas não aconteceram do jeito que nós esperávamos e a ira diz que esta é maneira de encontrarmos controle neste mundo. A ira está conectada com o nosso ressentimento que diz que “eu não aceito e não perdoo que as coisas não tenham saído do meu jeito.

 Jonas quando estava no pior dos lugares, nas profundezas do mar, dentro do ventre de um peixe, fez uma linda oração ao Senhor (Jn 2). Mas, quando estava no melhor lugar, vendo uma cidade inteira se arrependendo e se prostrando perante Deus ele fez a pior das orações (Jn 3 – 4). Sua segunda oração veio de um coração cheio de raiva (Jn 4:1-5). Em sua primeira oração ele clamou a Deus por socorro, mas sua segunda oração pediu para Deus lhe tirar a vida! Jonas preferia morrer do que ter que ver o que não queria. Ele não queria ver a salvação dos seus inimigos.

 Na esfera política, o candidato que toca nos nossos medos é o que vence. O direitista toca na ameaça do comunismo, o esquerdista toca na ameaça da “democracia” e por aí vai. Esses dias foi publicado um vídeo de um direitista dizendo que iria deixar de entregar marmitex para uma família pobre porque a família havia dito que iria votar em um candidato de esquerda. Se ajudamos somente pessoas que compartilham da mesma opinião política, ou se passamos tempo somente com pessoas que são da mesma idade, que gostam do mesmo tipo de música e que compartilham de nosso gosto e preferências, em que somos diferentes do mundo (Mt 5:43-48)? Que amor é este? Falhamos em atender ao mandado bíblico de ser tudo para com todos, porque preferimos adotar somente a primeira expressão sem a segunda (1Co 9:22). Queremos ser tudo somente para um determinado grupo de pessoas que gostamos.

 “Misericórdia quero e não holocaustos” disse Jesus! (Mt 9:13). O oposto de um espírito de medo é um espírito de amor. “No amor não existe medo” (1Jo 4:18). “O adversário do temor é o amor. O amor dá de si mesmo, o temor é autoprotetor. O amor se automovimenta em direção a outras pessoas; o temor as evita. No trato com o temor, nenhuma coisa possui poder tão expulsivo como o amor” (Jay Adams).

 Jonas era um ótimo teólogo, mas um péssimo missionário. Ele conhecia os atributos de Deus, e sabia que o Senhor era “Deus clemente, misericordioso, tardio em irar-se, grande em benignidade e que arrepende do mal” (Jn 4:2). Ele sabia que se anunciasse o julgamento a cidade de Nínive e aquele povo viesse a se arrepender, Deus os perdoaria, e foi o que aconteceu.

 Jonas com seu patriotismo egoísta, considerava a Assíria apenas como um inimigo a ser destruído, e não como um grupo de pecadores que precisavam se arrepender e serem conduzidos ao Senhor. Os judeus queriam a destruição dos seus inimigos, e quando soubessem que Jonas havia sido instrumento de Deus para salvação de uma nação estrangeira e inimiga, ficariam irados com ele, pois o considerariam como um traidor da política externa dos judeus.

 No Antigo Testamento, Israel não enviava missionários para evangelizar as nações. Quem quisesse conhecer a Deus tinha que vir até Israel. Somente o profeta Jonas foi enviado para Nínive, com o objetivo de mostrar que Israel não era tão bom assim, ou seja, não eram misericordiosos e não concediam perdão.

 Talvez você esteja sentado confortavelmente como Jonas (Jn 4:5) olhando de longe para aqueles que você deseja o juízo de Deus. Talvez você tenha desfrutado da misericórdia e do perdão de Deus, mas não tem sido misericordioso para com eles que ofenderam você. Não adianta procrastinar sua responsabilidade por causa da sua preguiça e medo, e por causa de sua ira e ressentimento, as coisas não vão acontecer do jeito que você quer, mas conforme a vontade de Deus. Tem algo que você precisa fazer que ainda está fugindo (procrastinando)? Vá e acerte!

terça-feira, 20 de setembro de 2022

“A guerra de palavras é, no fundo, uma guerra por soberania” (Paul Tripp)

 

Vivemos dias em que a comunicação está cada vez pior, seja nas esferas da família, da sociedade ou do estado. Estamos nos defendendo, acusando, culpando outros, manipulando, racionalizando, argumentando, bajulando, suplicando, implorando, ameaçando e usando linguagem apelativa (forte carga emocional), tudo com o propósito de obter o controle sobre as pessoas ou situações. Estamos deixando de confiar na soberania de Deus sobre as circunstâncias e situações, e tentando ser Deus, ou seja, estamos batalhando contra Deus para obter o controle sobre as pessoas e situações.

Quando culpamos as pessoas e as circunstâncias por nossos problemas, estamos acusando e responsabilizando Deus de forma sutil (Gn 3:12). Em circunstâncias difíceis ficamos mais dispostos a atribuir culpa do que a buscar soluções. Os cristãos nunca devem usar as palavras, o maior dom de Deus para a comunicação, para destruir uns aos outros.

Fazer ataques pessoais para tentar desqualificar uma pessoa é um erro, e não resolve o problema. Por exemplo, o Profeta Daniel, quando soube que seria morto juntamente com os outros sábios do rei Nabucodonosor por não terem conseguido interpretar seu sonho, “decidiu atacar o problema” e não o rei, ou seja, ao invés de reunir um grupo de amigos e convocar pessoas para um movimento onde ficariam culpando, murmurando e desqualificando o rei por sua sentença rigorosa contra suas vidas, ele simplesmente agiu de forma prudente, com tato, procurou saber qual era o problema e foi até a presença do rei para ouvi-lo, e logo em seguida foi orar com seus amigos para pedir sabedoria a Deus sobre aquele problema. Como consequência, Deus foi misericordioso para com sua vida, e lhe concedeu capacidade de interpretar o sonho do rei (Dn 2).

Ao invés de desperdiçar energias em palavras que destroem outras pessoas, nossas palavras devem edificá-las (Ef 4:29). Quando são dirigidas para o problema, em vez de serem dirigidas contra a pessoa, as palavras edificarão, ajudando-a a resolver seu problema. Em vez de atacar as pessoas com palavras o cristão deve dirigir todo a sua energia, inclusive suas palavras para o verdadeiro problema (Ef 6:12), enfrentando-o com a solução ensinada por Deus. “Com palavras ataque os problemas e não as pessoas” (Jay Adams).

Alguns exemplos de comunicação deficiente:

1. Linguagem apelativa: Em nossos dias é muito comum vermos pessoas se utilizarem de uma linguagem apelativa quando querem atacar um ponto de vista contrário ao seu. Esse tipo de linguagem costuma utilizar argumentos que zombam daqueles que pensam de forma contrária apelando a emoção

Por exemplo, quando o apóstolo Paulo escreveu para Filemom, ele fez um apelo gentil em favor de um escravo fugitivo chamado Onésimo. Paulo estava consciente de sua autoridade apostólica, e mesmo assim ele preferiu fazer seu pedido de modo diferente, ao invés de ordenar, ele baseou seu pedido no amor cristão (Fm 8,9)

Líderes intransigentes (intolerantes) e autoritários contradizem o que o Senhor diz de dar a si mesmo. Alguns líderes quando são desafiados costumam dizer as seguintes frases: “Eu sou o diretor desta escola, e aprendi a vencer intimidando os alunos, pais, professores e funcionários”; “Eu sou pai (ou mãe) e o que digo é lei”; “Eu sou o pastor dessa igreja, se me desafiar, você vai se arrepender”. Quando somos chamados para liderar, devemos fazer isso seguindo o modelo de Cristo (Mc 10:42-44). 

2. Transferência de culpa: Uma pessoa que diz: “Eu seria mais ativo nos ministérios da igreja ou no ministério do lar, se não tivesse de trabalhar tão duro para pagar as contas” está na verdade dizendo: “Deus, a culpa é sua. Se você fosse melhor em prover minhas necessidades, eu poderia servi-lo do jeito que realmente desejo”. O Deus que deveria ser amado, obedecido e servido tem se tornado o bode expiatório para os nossos pecados (Gn 3:12).

Vejamos agora algumas tentativas verbais de um pai tentando assumir o controle de seus filhos pelo orgulho:

3. Culpa: “Pense em todo dinheiro que investimos em você, é esse o agradecimento que recebemos? ”.

4. Manipulação: “Lembra daquele brinquedo que você me pediu de aniversário, se você fizer ______, talvez possa acordar e encontrar ele ao lado da cama”.

5. Ameaça: “Você vai me respeitar, ainda que seja a última coisa que eu faça”.

Este inventário abaixo lhe dará uma ideia de como você se comunica com as pessoas. Da primeira vez faça a prova sozinho, depois peça ao seu cônjuge ou alguém mais próximo que avalie você.

a)      Eu costumo interromper quando alguém está falando comigo?

b)      Eu não presto a devida atenção quando alguém está falando comigo?

c)     Eu julgo motivações? (Devemos julgar somente fatos concretos, evite fazer suposições)

d)     Eu pareço estar desinteressado ou indisposto quando converso com alguém?

e)      Eu faço generalizações quando com outras pessoas? (Exemplo: “você nunca me escuta!” Evite palavras como: “sempre, nunca, somente”, mas, tente usar frases como: “você tende a”, ou “eu acho que tenho observado um padrão”, ou “você parece lutar habitualmente com”.

f)       Eu transfiro a culpa e responsabilizo as pessoas?

g)      Eu não peço perdão?

h)      Eu desenterro coisas do passado sobre coisas que prometi esquecer?

i)        Eu repreendo severamente?

j)        Eu humilho as pessoas?

k)      Eu sou áspero no meu modo de falar com as pessoas?

l)        Eu não faço todo esforço para resolver conflitos?

m)    Eu não procuro ajuda?

O cristão precisa compreender que ele nunca estará em uma situação, localização ou relacionamento no qual Deus não esteja governando. O cristão deve confiar na soberania de Deus sobre as circunstâncias e relacionamentos, pois Deus tem um propósito em nossos problemas e pressões que estamos passando, que é a nossa santificação.

O universo de ser visto da perspectiva do céu, ou seja, de onde todas as coisas são governadas pelo Senhor em seu trono (Ap 4). Todas as notícias que vemos em jornais, revistas, internet e rádios, são reportagens e manchetes em termos de causas secundárias, ou seja, tudo está sendo controlado pela vontade de Deus, nada escapa do seu domínio. O trono é o centro do universo. Isso não significa que o homem não seja responsável pelo modo como ele vive e governa sobre a terra, pois ele prestará contas a Deus.

Lembre-se, a “guerra de palavras” é uma guerra por soberania, é uma tentativa de ser Deus, para se obter o controle sobre as pessoas e situações. Você está lutando com Deus ou batalhando contra Deus?

 

 

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Pregação sem aplicação prática não tem vida!

 Segundo Stuart Olyott, um pregador precisa ter 1) exatidão exegética, 2) conteúdo doutrinário, 3) estrutura clara no seu sermão, 4) ilustrações vívidas, 5) aplicação penetrante, 6) pregação eficiente e 7) autoridade sobrenatural (ação do Espírito Santo) para se tornar excelente! Neste artigo, focarei apenas na característica da aplicação penetrante.

Para os puritanos o propósito da pregação, era julgado não pelo que acontecia na igreja, mas pelo efeito do sermão fora dela. Pregadores puritanos preparavam seus sermões cuidadosamente. Seus sermões eram expositivos, com ensinamentos de uma passagem específica da Bíblia, e uma das características mais atraentes da pregação puritana era sua ênfase na aplicação prática da doutrina à vida.

O objetivo da aplicação era conduzir o indivíduo cristão a uma mudança de comportamento onde fosse necessária pelo despertamento da consciência. A aplicação era a vida da pregação. Para eles, se os santos não fossem edificados pelo sermão, então a Palavra não havia sido pregada. O sermão puritano era dividido em duas partes: doutrina e prática, ou seja, o sermão era tanto profundo teologicamente quanto intensamente prático. Cada sermão deveria conter doutrinas explicadas com aplicação imediata na vida das pessoas. As formas de aplicação eram divididas em sete categorias de ouvintes:

1.       Incrédulos que são tanto ignorantes quanto ineptos...

2.       Alguns são educáveis, embora ignorantes...

3.       Alguns têm conhecimento, mas ainda não estão humildes...

4.       Alguns estão humildes...

5.       Alguns creem...

6.       Alguns decaíram...

7.       Há um povo misturado...

Eles eram unânimes em dizer que a tarefa principal de um pastor era pregar. Eram homens verdadeiramente convertidos, conhecedores de idiomas, cultos, zelosos, santos, e aptos para o ministério. Eles respeitavam mais a vida de um pregador santo do que sua erudição. Um pregador tinha que ser capaz de falar com autoridade moral. Um pastor é acima de tudo alguém que alimenta e cuida de um rebanho.

A universidade de Harvard nos Estados Unidos foi fundada por pastores puritanos que se preocupavam com o ministério inculto às igrejas. O poder penetrante da pregação residia não na manipulação da audiência pelo pregador, mas na ação do Espírito Santo. As famílias faziam anotações do sermão para depois falarem sobre ele reunidos em suas casas. Mesmo sendo homens doutos, eles preparavam sermões simples pois visavam atingir toda a sociedade. O propósito do sermão não era excelência estética, mas edificação espiritual. O conteúdo de um sermão era mais importante do que sua forma. A finalidade de um sermão era servir como um meio de graça.

“A Palavra de Deus é o centro da vida da igreja”, disse Mike McKinley. Sem a Palavra de Deus, uma igreja não tem qualquer esperança, enquanto se prepara para se encontrar com este Deus que julgará vivos e mortos. Quando você prega a Palavra de Deus com fidelidade, poucas pessoas são tentadas a pensar que você é grande. Deus não está interessado na glória de pregadores (1Co 1:18-21). A Palavra de Deus é o meio que ele usará para edificar sua igreja. Se você é um pastor ou um plantador de igrejas, dedique seu tempo e energia para pregar e ensinar a Palavra de Deus com excelência!

Conheça as pessoas com quem precisa lidar, como suas necessidades. Uma igreja que possui um púlpito distante das pessoas (mensagens difíceis sem aplicação na vida das pessoas) não se torna uma comunidade, mas um palco com uma plateia para seus pregadores. Os pastores precisam não somente focar no conteúdo pretendido, mas no efeito real percebido. Isso não é pragmatismo, pois se você é um pai, você sabe muito bem que precisa utilizar uma linguagem mais fácil para ensinar seus filhos, e confiar no poder do Espírito Santo para convencê-los. Conta-se que Lutero sempre pregava na igreja imaginando estar ensinando uma criança ou adolescente de 12 anos para que todos fossem capaz de entender seu sermão.

Um pastor, um diretor, um governante, um pai, precisam conhecer seus receptores para que sua comunicação não seja um desastre. Tenha interesse em saber os dados sobre sexo, idade, nível de escolaridade, profissão, estilo de vida, passatempo pretendido, opinião sobre questões sociais, culturais, políticas etc. Na esfera da igreja por exemplo, o trabalho de exegese e hermenêutica são importantes e de real vitalidade na saúde da igreja, porém, também tem sido um esconderijo para muitos pastores fugirem das pessoas e de suas perguntas, escondendo-se atrás de sua erudição, esquecendo-se que seu ministério é público (pregação) e pessoal (aconselhamento).

Para romper a barreira do alheamento, o pregador precisa despertar a atenção, e estimular o interesse dos ouvintes, pois ele encontrará vários tipos de pessoas e obstáculos para vencer. Os três principais obstáculos são: 1) apatia: o ouvinte não está interessado nas coisas que serão ditas; 2) antipatia: o ouvinte está contra nós e contra o conteúdo que falaremos; 3) incredulidade: o ouvinte não crê no Livro que pregaremos. Como podemos chamar a atenção do ouvinte? Dando algo para que possam ficar atentos. Como fazer isso? Vejamos alguns exemplos:

1. Em um aconselhamento: Certa vez, Lou Priolo foi a um jantar de uma universidade e ele se sentou ao lado de um meteorologista. Por duas horas ele ficou perguntando sobre a previsão do tempo. Quando a noite acabou, o meteorologista apertou sua mão e disse que não se lembrava da última vez em que havia conversado com alguém tão interessante. Qual o segredo disso? Ele disse que gastou 5% da conversa falando sobre ele, e 95% conversando sobre o tempo. A melhor maneira para se fazer amigos e influenciar pessoas é exatamente isso, falar sobre assuntos de interesse delas. Considere Fp 2:4: “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”. Mesmo que a motivação deste versículo não seja o de ganhar amigos ou influenciá-los, pois o propósito dele é glorificar a Deus e ministrar aos outros, as pessoas podem ser atraídas para sua comunicação conversando sobre assuntos que lhe interessam quando você investe tempo e esforço para isso. Este ato, demonstra um amor sacrificial, semelhante ao de Cristo. 

“Entrar no mundo de uma pessoa capacita-nos a aplicar as verdades do evangelho de maneira específica para a pessoa e para a situação” (Paul Tripp). Durante os trinta e três anos que Jesus viveu entre nós, ele não somente foi aprovado no teste que Adão foi reprovado, mas ele também coletou dados a respeito de tudo que sofremos ao suportarmos a vida à espera de sua volta (Hb 4:15). Jesus entende a dor da traição, rejeição, dor física e solidão, ele nos conhece.

2. Em uma palestra: John Haggai conta em seu livro “Seja um Líder de Verdade” que 1975 ele tinha que fazer uma palestra muito importante nos EUA, para o qual ele orou vários dias para poder pensar em uma maneira de romper a barreira do alheamento (desinteresse das pessoas) do seu auditório. Naquela época eles estavam vivendo uma crise financeira provocada pela elevação dos preços do petróleo. Ele começou sua palestra com estas palavras: “Vou dar a vocês dez mandamentos para sobreviver em meio à crise financeira”. Ele disse que em questão de segundos podia-se ouvir uma casca de cebola caindo no tapete, de tão silencioso ficou o auditório de 2.500 pessoas. Este exemplo nos ajuda a entender que podemos romper o alheamento das pessoas ao nosso redor conversando assuntos que são do interesse deles.

3. Em um sermão: a introdução não deve ser muito longa, e nem deve prometer mais do que o sermão pode dar. Deve conter um único pensamento para poder despertar e preparar as pessoas para quilo que vem depois. Uma introdução longa, é semelhante aquele que convida amigos para um jantar, mas gasta muito tempo arrumando a mesa, a ponto de os convidados chegarem a duvidar se irão ou não jantar alguma coisa.

Muitos pregadores pensam que o sermão eficiente é somente aquele que deixa a congregação se sentindo culpada, ou seja, eles não possuem uma mensagem bíblica equilibrada sobre culpa e pecado com a mensagem bíblica de perdão e renovação. Alguns enxergam a doutrina da “depravação total” em letras garrafais e a novidade de vida em Cristo com letras minúsculas.

O desequilíbrio mais comum é a ênfase demasiada na queda. Deve haver um equilíbrio entre os elementos CRIAÇÃO/QUEDA/REDENÇÃO. A Bíblia não começa na queda, e sim na criação. Em uma cultura secularizada, onde as pessoas desconhecem conceitos básicos de teologia, é mais prudente começar pela criação e não pela queda, caso contrário seria adequado começar com a queda.

O apóstolo Paulo tinha uma abordagem baseada nas Escrituras de acordo com o seu público. Em Atos 13:14-16 ele vai pregar o evangelho em uma sinagoga num sábado. Neste texto, o grupo era formado por judeus. Também havia presença gentílica ali. Paulo inicia com um dos principais fatos da história judaica, o êxodo. Ele relembra a história de Israel até Davi, e intencionalmente, lhes introduz a promessa do Messias (At 13:23). Neste contexto ele prega a Cristo a partir do Deus de Israel, se fundamentando no Antigo Testamento para lhes apresentar o Messias. Já em Atos 17:16-31, Paulo proclama Cristo para os gentios que não conheciam as Escrituras. Ele está em Atenas, o centro filosófico do mundo da época. O sermão de Paulo neste contexto não se iniciou nas Escrituras do Antigo Testamento, ele pregou Deus a partir das evidências da criação e do deus desconhecido (At 17:23).

Em Atenas, somente depois que Paulo formou seu argumento baseado na criação (quem é Deus; quem somos; e o que lhe devemos) é que ele apresentou os conceitos de pecado e arrependimento. Ao falarmos com as pessoas do século XXI que não tem conhecimento da Bíblia, é preciso seguir o modelo de Paulo, baseando argumentos na criação antes de apresentar a mensagem de pecado e salvação.

Para isso é preciso aprender a se relacionar, pois vivemos em uma sociedade moderna cada vez mais privatizada, as “vizinhanças” desaparecem e as pessoas se fecham cada vez mais em seus mundos particulares. As pessoas não estão abertas a ouvir um estranho. O evangelismo por meio de rádio, TV, jornais, folhetos, transmissões de cultos pela internet, podem ser importantes, porém, em uma cultura privatizada, podem criar pessoas resistentes ao compromisso e ao discipulado.

Em uma sociedade cada vez mais privatizada, as pessoas raramente ouvem o evangelho a partir de estranhos. Uma igreja que é caracterizada pelo evangelismo por amizade, é desenvolvida primariamente pelos relacionamentos, e secundariamente pela determinação de programações.

Quando começamos igrejas planejadas intencionalmente para apelar a certo tipo de pessoa, falhamos em atender ao mandado bíblico de ser tudo para com todos (1Co 9:22). Muitas igrejas preferem adotar somente a primeira expressão sem a segunda. Querem ser tudo somente para um determinado grupo de pessoas e aqui está o problema. Se o público alvo da igreja são os jovens, significa que pessoas mais velhas serão alienadas. Se passamos tempo com pessoas que são da mesma idade, que gostam do mesmo tipo de música e que compartilham de nosso gosto, opinião política e preferências, em que somos diferentes do mundo (Mt 5:47)?

Quando Cristo envia um homem a pregar, Ele não comissiona apenas para expor a verdade, mas também para dizer aos seus ouvintes como praticá-la. Existem vários tipos de pessoas a nossa frente, e o que faremos com todas elas? Assim como um farmacêutico responsável entrega o medicamento com a prescrição certa para cada tipo de pessoa, e o alfaiate que entrega a roupa sob medida de modo a adequar aos vários tipos de clientes, o sermão não pode ser de “molde padrão”, pois fazendo assim o pregador não atingirá a consciência das pessoas (estudantes, pais, filhos, solteiros, casados, viúvas, desempregados, solitários, enfermos, atribulados etc.). O pregador não cumpre seu dever, se apenas diz às pessoas o que fazer, ele tem de mostrar-lhes como e porque tal coisa é digna de ser feita.

Sabemos que o resultado pertence a Deus, e que aquele que convence e transforma o coração é o Espírito Santo, porém, Deus pode transformar corações a despeito do pregador, pois sendo um Deus misericordioso, Ele ainda opera com sua Palavra que não pode voltar vazia. Esteja sempre de joelhos orando a Deus antes de pregar, pedindo que ele traga o não convertido a Cristo e faça o convertido crescer na graça e no conhecimento do Senhor.

OBS: Este artigo é apenas um guia, não é uma regra (mandamento) a ser obedecida, você pode rejeitá-lo, como também pode utilizá-lo de maneira parcial ou completa se assim quiser, Deus o abençoe!

 

REFERENCIAL TEÓRICO

HAGGAI, John Edmund. Seja um Líder de verdade: Liderança que permanece para um mundo em transformação. Belo Horizonte: Betânia, 1990.

MACARTHUR, John; MACK, Wayne. Introdução ao aconselhamento bíblico: Um guia básico de princípios e práticas de aconselhamento. São Paulo: Hagnos, 2004, p. 41-63.

MCKINLEY, Mike. Plantar Igrejas é para os fracos: Como Deus usa pessoas confusas para plantar igrejas comuns que fazem coisas extraordinárias. São José dos Campos: Fiel, 2013.

OLYOTT, Stuart. Pregação pura e simples. São José dos Campos: Fiel, 2018.

PRIOLO, Lou. Maridos Perseguindo a Excelência: Princípios bíblicos para maridos que almejam o ideal de Deus. São Paulo: NUTRA, 2011.

RYKEN, Leland. Santos no Mundo: Os Puritanos como realmente eram. 2. ed. São José dos Campos: Fiel, 2013.

TRIPP, Paul D. Instrumentos nas Mãos do Redentor: Pessoas que Precisam Ser Transformadas Ajudando Pessoas que Precisam de Transformação. São Paulo: NUTRA, 2009.

Seu filho tem dificuldades em prestar atenção?

Prestar atenção é uma habilidade difícil para todas as crianças. Dar nossa atenção corretamente é uma luta normal. Embora seja uma luta co...