sábado, 13 de abril de 2019

O cordão de três fios fixados ao chamado de um homem no ministério pastoral


Dave Harvey em seu livro “Eu sou chamado?” observando o que as Escrituras dizem sobre homens que entraram no ministério pastoral, diz que existem três fios entretecidos que fixam ao chamado de um homem, eles são:
  • ·         Chamada interna
  • ·         Preparação
  • ·         Confirmação externa
No fio 1, a chamada interna, é relacionado ao que se passa no íntimo daquele homem que entrou no ministério pastoral. Sua decisão é com base em um “anseio, um anelo, uma fome por proclamar a Palavra” (Spurgeon). A chamada interna envolve caráter, dom, capacidade de pregar, um coração disposto a cuidar e um amor pelos perdidos (HARVEY, 2013, p.176-177).

No fio 2, a preparação, é algo muito importante para aquele que almeja entrar no ministério pastoral, porque todos nós temos a tendência de pensar que o sentimento da chamada interna deve ser realizado imediatamente. Todo aquele que aspira entrar neste ministério necessita de preparação, por isso muitas portas podem ser fechadas pelo próprio Deus que chama (Ez 3:4,26), com intuito de prepará-lo para o ministério pastoral, e nesse tempo de preparo ele não pode permanecer acomodado, ele deve estar fazendo algo. Jamais devemos olhar para o que um homem é ou que ele pode fazer, e sim procurar ver o que ele já está fazendo. Uma pessoa que não aprendeu a servir na obscuridade, não saberá servir quando for ordenado. Abraão teve a promessa de um filho aos 75 anos de idade, mas só recebeu aos 100 anos. Pense em Moisés que viveu durante 40 anos no deserto duas vezes. Davi teve de manter-se calmo por cerca de 30 anos entre a unção e o governo. Paulo teve de esperar 17 anos entre a chamada em Damasco e o reconhecimento mais amplo do seu papel. Deus usa os meses e os anos para testar um homem e santificá-lo. Precisamos do tempo de preparo na obscuridade. Precisamos aprender a servir na obscuridade.

Conforme disse Dave Harvey:

Precisamos realizar o ministério sem aclamação, para não ficarmos viciados em aclamação, quando ela surgir. Anonimato é o solo do qual os pastores são colhidos. A obscuridade fertiliza o homem com humildade, para que aquilo em que ele se torne produza realmente fruto (HARVEY, 2013, p.206)

Não se preocupe com o tempo que está passando, Deus não se esquecerá nem negligenciará a obra que está fazendo em você ou o lugar que está preparando para você (Hb 6:10).

No fio 3, a confirmação externa, é o processo de avaliação pelo qual a igreja afirma a chamada de Deus para o homem (HARVEY, 2013, p.178). Um senso pessoal nunca é suficiente para impelir um homem ao ministério, pois o senso subjetivo de chamada tem de ser validado objetivamente. A chamada interna que instiga é validada por uma confirmação externa para o homem.

Na história de Israel, o reconhecimento público do homem chamado por Deus era representado pela prática da unção (derramamento de óleo) e aclamação. Jesus submeteu ao batismo, em um momento de confirmação para seu ministério público. A chamada interna que instiga a alma é validade por uma confirmação externa para o homem. A chamada externa não qualifica ninguém, ela apenas confirma o ministro que Deus chamou internamente e convenientemente. Essa chamada transmite apenas autoridade oficial. A chamada interna é a voz e o poder do Espírito Santo dirigindo a vontade e o julgamento e transmitindo qualificação pessoal (BRIDGES, 1830 apud HARVEY, 2013, p.179-180).

Tanto a chamada interna quanto a chamada externa vêm de Deus. Na chamada interna, Deus age através da agência humana de nossa própria vontade, e na chamada externa, ele age por meio da agência humana de sua igreja (HARVEY, 2013, p.180). A confirmação externa deve vir de alguém qualificado. Assim como Paulo e Barnabé foram chamados para obra missionária, esse chamado foi feito para toda a equipe de liderança, o Espírito Santo não falou diretamente a Barnabé e Paulo, mas falou aos outros a respeito deles. Foi pedido aos outros líderes que confirmassem e enviassem estes homens (At 13:2). Eles foram conhecidos, avaliados e preparados sob a liderança ordenada por Deus. Não somente os líderes, mas a própria igreja deve fazer parte do processo de confirmação. O problema muitas vezes está sobre quem ocupa essa posição de oferecer confirmação na vida daqueles que são chamados. Onde eles estão? Se eles estiverem distantes das pessoas, dos evangelistas e dos obreiros da igreja, como poderão confirmar a chamada daqueles que Deus chamou? Eles devem estar acompanhando de perto e fazer parte do trabalho de confirmação externa.

O papel da igreja em confirmar a chamada protege o ofício de pastor de ambições egoístas e corruptas, além de dar ao pastor a confiança de que ele não está enganando a si mesmo quanto as suas qualificações para o ministério. A confirmação externa também protege os membros da igreja. Colocar um homem num púlpito quando ele não é nem chamado nem dotado para estar lá é um desastre em preparação.

Deus não precisa de nós para nada, pois Ele é autossuficiente. No entanto, em sua graça, Deus chama homens, um por um, para plantarem igrejas e pastorearem seu povo. Enquanto o tempo passa, prepara-se! Não é o homem que procura o ofício e sim o ofício que procura o homem. O teste crucial de um homem chamado é se ele deseja o avanço do evangelho mais do que o avanço de seu próprio ministério (HARVEY, 2013, p.212).
 
Haverá alguém para dar continuidade à obra do Senhor; e, à medida que a obra prossegue, importa quem a realiza? Deus sepulta o obreiro, mas o próprio Diabo não pode sepultar a obra. A obra é permanente, embora o obreiro morra. Nós passamos, como estrela após estrela perde seu brilho; mas a luz eterna nunca se obscurece. Deus terá a vitória. Seu Filho virá em sua glória. Seu Espírito será derramado entre os povos; e, quer não seja este homem, nem aquele, nem aquele outro, Deus achará, até nos confins do mundo, o homem que levará adiante a sua causa e lhe dará a glória (SPURGEON, 1892 apud HARVEY, 2013, p.213).





REFERENCIAL TEÓRICO

HARVEY, Dave. Eu Sou Chamado? A vocação para o ministério pastoral. São José dos Campos: Fiel, 2013.

sábado, 6 de abril de 2019

O evangelho é a base para o ministério pastoral


Infelizmente não são poucos o que se candidatam para ministério pastoral baseados em uma ambição egoísta, ao contrário da aspiração santa (1 Tm 3:1), e como consequência, muitos compreendem o chamado para o ministério pastoral como uma oportunidade de crescimento profissional, como de uma carreira que pressupõe certo grau de habilidades em negócios, interesse próprio, recompensa pessoal e reconhecimento público. John Piper diz que “a profissionalização do ministério é uma ameaça constante à ofensa do evangelho” (PIPER, 2002, apud HARVEY, 2013, p.64).

A igreja não é uma trajetória de carreira (HARVEY, 2013, p.64). Uma das formas para compreender melhor nosso chamado é entender a distinção entre alvos e desejos com base na distinção entre perfeição e fidelidade (GOMES, 2012, p.24). Por exemplo, podemos ter como alvo o dinheiro, porém, nem sempre será possível ter dinheiro e se o tivermos, sabemos que “a traça e a ferrugem corroem, ladrões escavam e roubam” (Mt 6:19). Ter dinheiro poderá ser um bom desejo, se o seu propósito for o de servir ao alvo de Deus, de sermos honestos, fiéis e generosos. Podemos ter como alvo o casamento, que é uma instituição de Deus, porém, o casamento não é um bom alvo porque sua realização não depende de nós, depende da vocação de Deus, e, também, da vontade do outro, e caso você ouça um não, esse alvo será frustrado. Casamento poderá ser um bom desejo, se o seu propósito for o de servir ao alvo de Deus, conforme as disposições da Palavra de Deus e se houver concordância do outro. Podemos ter como alvo ser perfeitos, conforme está escrito em Filipenses 3:12-16, porém, ser perfeito não é um bom alvo porque ninguém jamais conseguirá ser perfeito neste lado da vida. Somente Deus que é perfeito, pode ter o alvo de que também sejamos perfeitos, e Ele o irá realizar (Fl 1:6). Ser perfeito para nós é algo impossível, mas é um bom desejo. Paulo diz que não havia ainda obtido ou recebido a perfeição, mas prosseguiria para esse alvo, deixando de lado os impedimentos e desejando ser fiel à sua vocação. Por vezes cometemos deslizes, mas seremos fiéis cada vez que retornarmos para Deus confessando nossos pecados buscando como alvo sermos fiéis à perfeição de Cristo. Se formos fiéis ao alvo de Deus, ele satisfará os desejos do nosso coração (Sl 37:3-4).

Aqueles que são chamados a pregar o evangelho podem ser os mais suscetíveis a afastarem-se do evangelho (HARVEY, 2013, p.41). É o evangelho que defini nossa identidade e não nossa credencial, pois quando pastores buscam proeminência o ministério está em perigo (WELLS, 1992 apud HARVEY, 2013, p.65). Por mais erudito seja um pastor (estudo acadêmico da Bíblia é essencial), sua credencial jamais deve ser a base para validação de seu chamado. “Não há chamada para o ministério que não seja primeiramente uma chamada para Cristo” (CLOWNEY, 1964 apud HARVEY, 2013, p.42). É somente porque a nossa chamada primária é garantida por meio do evangelho, mediante a cruz, que podemos nos regozijar em explorar a chamada para o ministério. Quando Paulo estava a caminho de Damasco como um profissional que tinha como objetivo matar cristãos, Cristo apareceu com notícias de uma mudança de carreira (At 9:15). Apesar de seu chamado ser singular, o que o definiu fundamentalmente não foi aquilo que ele foi chamado a realizar, nem sua educação e posição social, nem sua carreira ou seu contexto cultural. Conhecer a Cristo como Senhor superou tudo: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fl 3:8). “Ser escolhido para o ministério é algo sublime. Ser escolhido para a filiação á ainda mais sublime” (HARVEY, 2013, p. 43).


Sem o evangelho não temos um trabalho (1 Co 2:2). Precisamos reconhecer o verdadeiro valor do evangelho, ainda que tenhamos descoberto seu poder para nos salvar, não temos ideia do que possuímos. Paul Tripp faz uma analogia interessante sobre nossa nova identidade em Cristo e a maneira como nos contentamos em viver na pobreza. Imagine que certa tarde você receba um telefonema de um funcionário do banco que lhe informa que herdou cem milhões de reais de um parente distante. Daí você desliga o telefone todo empolgado para contar a sua esposa da fortuna recém encontrada. Corre até o banco, apresenta os documentos exigidos e saca dez mil reais para levar a sua esposa para jantar em um dos melhores restaurantes do país. Seis semanas mais tarde, sua esposa, ao analisar as despesas da casa, confusa diz: “Fulano, pensei que você tivesse dito que estávamos mais ricos do que poderíamos imaginar. Contudo, ainda vivemos como se fôssemos muito pobres. Por que ainda não vivemos da herança que você recebeu?” O marido responde: “Você sabe como é difícil ir até o banco e sacar o dinheiro? Primeiro, o banco fica no centro da cidade. O trânsito é horrível e estacionar é pior ainda. Quando você chega ao banco, precisa ficar numa daquelas filas quilométricas e, quando finalmente chega ao caixa, eles o tratam como se fôssemos criminosos e não como clientes” (TRIPP, 2009, p.350). (OBS: Isso não  tem nada a ver com a teologia da prosperidade, e sim o nosso caráter em Cristo).

O evangelho é o que realmente importa, se o removermos o ministério bíblico autêntico irá desaparecer. Homens são chamados como plantadores de igrejas, como pastores, para celebrarem a dignidade de Jesus, para garantir que nunca seja dito de sua congregação em relação ao evangelho: “Eles não têm ideia do que possuem”.

Conforme disse Dave Harvey:

Irmão, se você ama a ideia do ministério pastoral porque pensa que é qualificado para ajudar as pessoas em seus problemas, ou porque pode meditar em teologia, ou porque gosta da ideia de pessoas vindo toda semana para ouvir as coisas novas que você tem a dizer, então, preste um serviço à igreja por abandonar o pastorado (HARVEY, 2013, p.50).

Nenhum homem tem o direito de moldar a igreja de Deus para satisfazer suas próprias necessidades, pois ela foi comprada pelo sangue de Cristo (At 20:28).



REFERENCIAL TEÓRICO:

HARVEY, Dave. Eu Sou Chamado? A vocação para o ministério pastoral. São José dos Campos: Fiel, 2013.

TRIPP, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor: Pessoas que Precisam Ser Transformadas Ajudando Pessoas que Precisam de Transformação. São Paulo: NUTRA, 2009.

GOMES, Wadislau. Quem cuida de quem cuida? São Paulo: Cultura Cristã, 2012.

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