sábado, 22 de fevereiro de 2020

Vencendo o descontentamento: Lidando biblicamente com as circunstâncias boas e ruins, fáceis e difíceis


Fome, pobreza, agressão física, agressão verbal, problemas sérios de saúde, conflitos interpessoais e aprisionamentos são circunstâncias difíceis que pessoas em todo o mundo estão experimentando ou já experimentaram. Quantos de nós poderiam fazer a declaração de Paulo em Filipenses 4:10-13? Nesta declaração vamos um homem dizer que aprendeu estar contente em qualquer circunstância.
Como você avalia seu nível de contentamento? Há pessoas que ficam contentes de acordo com seu humor, outras raramente ficam contentes, e há pessoas que nunca estão contentes com nada. Se faz sol, reclamam do calor. Se chove, reclamam do calor. O carro que têm é pequeno e não tem potência, mas se compram um grande reclamam que gastam muito dinheiro com combustível. Reclamam que não tem dinheiro suficiente, que não têm uma casa grande o bastante, nem o tipo certo de trabalho, e nem o tempo livre que gostariam de ter.
Quando culpamos as pessoas e as circunstâncias por nossos problemas, estamos acusando e responsabilizando Deus de forma sutil (Gn 3). Em circunstâncias difíceis ficamos mais dispostos a atribuir culpa do que a buscar soluções. Quando um marido diz: “Minha esposa me deixa tão zangado!”, seu dedo aponta não apenas para sua esposa, mas para Deus, que ordenou o casamento. Uma pessoa que diz: “Eu seria mais ativo nos ministérios da igreja se não tivesse de trabalhar tão duro para pagar as contas” está na verdade dizendo: “Deus, a culpa é sua. Se você fosse melhor em prover minhas necessidades, eu poderia servi-lo do jeito que realmente desejo”. Um pai que diz: “Eu era muito mais calmo e paciente antes de ter filhos” na verdade está culpando Deus pelo fardo parental que ele condissera opressivo. O Deus que deveria ser amado, obedecido e servido tem se tornado o bode expiatório para os nossos pecados, aliás, isso aconteceu no jardim do Éden (Gn 3).
Quando Paulo escreveu esta carta ele provavelmente estava em Roma no final de sua terceira viagem missionária, em uma prisão domiciliar, aguardando seu julgamento. Seu contentamento não estava dependente das circunstâncias. Receber louvor e honra não era algo muito comum para Paulo durante seu ministério. Vemos em suas cartas que ele experimentou situações de honra e desonra. Paulo era conhecido como um homem bem instruído e inteligente (At 22:3). Quando ele curou um paralítico de nascença em Listra, as pessoas ficavam maravilhadas ao ponto de chamá-lo de “deus” (At 14:11). Quando ele foi picado por uma serpente e as pessoas perceberam que ele não havia sofrido com o efeito da picada, foi novamente chamado de “deus” (At 28:6). Paulo  sofreu com zombaria, prisão, açoites, apedrejamento, naufrágio, fome, noites sem dormir, exposição a condições climáticas extremas, assaltos e outros perigos incontáveis (2Co 11:23-27). Ainda assim, depois de todas estas experiências, boas e ruins, fáceis e difíceis, ele pôde dizer no fim da vida: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fl 4:11).
O verdadeiro contentamento precisa ser aprendido (Wayne Mack). A palavra grega traduzida por “contente” em Filipenses 4:11 é “autarkes”, é a mesma usada em 2 Coríntios 9:8 (autarkeia), e diz respeito à uma autossuficiência que provém da autossuficiência de Deus. A palavra suficiência (hikanotes) em 2 Co 3:5 significa capacidade, habilidade, competência. Assim, o que realmente torna-nos suficientes (“autárquicos”) é a derivação de poder do caráter divino mediante a união e participação com o seu Filho (Wadislau Gomes). A palavra grega traduzida por “contente” em 1 Tm 6:8 também significar ser autossuficiente em Deus (arkeo).
Paulo, aprendeu a não depender de suas circunstâncias. Ele aprendeu a não deixar que pessoas ou acontecimentos o controlassem, que determinassem seu sofrimento ou sua alegria, nem que impedissem seu ministério. Aquele que vive satisfeito em todo tempo, “descobriu” (aprendeu) o que é o verdadeiro contentamento. Não devemos andar de acordo com as circunstâncias, mas, como crentes, devemos andar “independente” das circunstâncias, ou seja, devemos aprender a viver sem depender do que está nos acontecendo, alegrando-nos no Senhor e contentando-nos com o que quer que Deus julgue adequado para nossa vida (Wayne Mack).
Isso não significa que não devemos buscar mudanças ou tentar melhorar nossas circunstâncias, pelo contrário, devemos nos esforçar para tirar a melhor nota possível, trabalhar com excelência em nosso trabalho ou em algum ministério na igreja, procurar um médico quando estivermos doentes,  porém, a questão crucial a ser aprendida aqui é que depois de fazermos tudo o que for necessário para melhorar nossas circunstâncias ou o mundo a nossa volta, precisamos confiar os resultados nas mãos de Deus. Isto significa que depois de todo nosso esforço para cuidar de nossa saúde, precisamos aprender nos contentar se ela melhorar ou não. Significa que depois de todo nosso esforço em nosso trabalho e ministério, e depois de darmos o nosso melhor em nossos estudos, precisamos aprender a nos contentar com o resultados que Deus trouxer, pois este é o “segredo” da verdadeira liberdade, o contentamento, que Paulo está nos ensinando.
Embora sejamos sempre gratos a Deus por sua provisão de saúde, educação, talentos, trabalho, e de inúmeras outras bençãos, não podemos depender delas a ponto de perdermos nosso contentamento caso sejam tiradas de nós. Se nossa segurança está em Cristo, podemos dizer como Paulo: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fl 4:11), ou como Pedro: “Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (1Pe 1:3).
Estar contente em toda e qualquer situação significa dizer que seja o que for que eu tenha recebido de Deus, para mim é o suficiente!

  


REFERENCIAL TEÓRICO

MACK, Wayne A. Caído, mas não Derrotado: Lidando Biblicamente com o Desânimo, o Abatimento e o Esgotamento. São Paulo: NUTRA, 2016, p.167-186.

TRIPP, Paul D. Guerra de Palavras: O que há de errado com a nossa comunicação. Uma compreensão do plano de Deus para a nossa fala. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.31.

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