sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A importância da catequização doméstica

A palavra “catecismo” tem origem no grego katecheo, que consiste em duas palavras, kata “descer em direção a, do alto para baixo”, e echeo “soar, ou ecoar”. Katecheo é portanto, “soar em direção a”, falar a alguém com o objetivo de receber algo de volta como um eco. O método catequético de perguntas e respostas transmite a Palavra e sua doutrina para obter o retorno, provar o coração e avaliar a profundidade do conhecimento. Lucas escreveu seu Evangelho “para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído [catequizado]” (Lc 1:4). Apolo era “instruído [catequizado] no caminho do Senhor” (Atos 18:25). Catequização é o mandamento do Espírito, ordenado a Timóteo através de Paulo: “Ordena e ensina estas coisas” (1Tm 4:11). Catequização paterna é uma arte praticamente perdida nos dias de hoje, para grande prejuízo das famílias e da igreja. Este é o motivo da grande ignorância doutrinária na igreja. A “Catequização Doméstica” foi a espinha dorsal da Igreja Reformada em seus primeiros séculos.

Martinho Lutero foi um grande catequizador. Entre 1528 e 1529 ele saiu para visitar as igrejas da Saxônia e descobriu que tanto pastores quanto ovelhas conheciam muito pouco sobre as doutrinas da fé cristã. Ele sugeriu que o primeiro estágio do catecismo deveria ser “aprender e recordar o básico”, ou seja, para ter o conteúdo gravado no coração era preciso repeti-lo até memorizá-lo. O segundo estágio era entender o que havia sido memorizado (respondendo e explicando com as próprias palavras), e o terceiro estágio seria praticar o ensinamento memorizado e entendido no coração (Franklin Ferreira).

Os puritanos eram grandes catequistas. Para eles o sermão de domingo deveria ser reforçado por um ministério pessoal de catequese (instrução das doutrinas das Escrituras pelo uso do catecismo). O alvo do catecismo para os puritanos era explicar os ensinamentos fundamentais da Bíblia, auxiliar os jovens a memorizar a Escritura, aperfeiçoar o entendimento dos sermões e dos sacramentos, ensinar e preparar as crianças da aliança para se defender contra erros e fazer a pública profissão de fé, e por fim, ajudar os pais a ensinar seus filhos.

Discipular é ensinar. Ensinamos todas as palavras transmitidas por Jesus a seus discípulos e todas as palavras da Bíblia. É muito importante o ensino expositivo da Bíblia, alternando livros do Antigo e Novo Testamento. Não há problema em conversar sobre futebol ou sobre a escola dos filhos, mas também é bom falar a respeito do sermão de domingo. (Mark Dever. Discipulado, p.44-45)

Peça aos filhos que tomem nota do sermão, para que ao voltar do culto, cada um possa compartilhar o que aprendeu durante o almoço de domingo, e discutir o conteúdo e a aplicação com a família. No passado, as famílias protestantes faziam das refeições da noite o tempo para breve oração e memorização do catecismo. Crie o hábito de fazer culto doméstico durante os dias da semana (Michael Horton).

OBS: Cuidado com o ensinamento legalista e moralista maquiados de “santidade e humildade” (Cl 2:16-23). Pais legalistas e moralistas criam uma falsa culpa no coração de seus filhos ao elevarem regras feitas pelos homens (proibição de tatuagem, corte de cabelo, brinco, música, bebidas e comidas) ao mesmo nível dos mandamentos de Deus. Esse tradicionalismo morto não tem cura, por isso muitas famílias e igrejas conservadoras são compostas por pessoas amarguradas e tristes por carregarem um peso de uma falsa culpa suscitada por um moralismo e legalismo que não há cura prescrita na Bíblia. A verdadeira culpa só pode ser removida através da confissão e arrependimento do verdadeiro pecado que está prescrito na Bíblia.

Os pais devem apresentar de forma clara o que é Lei de Deus e o que é Lei da Casa para seus filhos. A Lei de Deus são leis orientadas pela Bíblia, que todos os homens estão obrigados a fazer porque Deus ordenou. Alguns exemplos seriam: ame ao Senhor teu Deus de todo coração e ame o teu próximo como a ti mesmo; não minta, não roube, não cobice e etc. Por outro lado, a Lei da Casa são regras derivadas da Bíblia, e devemos obedecê-las enquanto estivermos sob as autoridades estabelecidas por Deus em nossas vidas, neste caso os pais são autoridade na vida dos filhos, e alguns exemplos seriam: ir para cama às 20:30hs, arrumar a cama todas as manhãs, assistir somente uma hora de TV por dia, não namorar antes dos 15 anos e etc.

Quando estas regras não ficam claras, os filhos podem rejeitar o verdadeiro cristianismo, e o mesmo pode acontecer com os membros da congregação. Jesus combateu este mesmo tipo de legalismo com os líderes religiosos do seu tempo. Os escribas e fariseus se apegavam e propagavam regras ao ponto de se tornarem tão legais e obrigatórias quanto as Escrituras. Suas tradições eram feitas por mãos de homens, e eles ensinavam como se fossem obrigatórias como a Lei de Deus. Por não fazerem essa distinção entre regras de homens, dos mandamentos de Deus, eles foram chamados de hipócritas (Mt 15:8,9).


REFERENCIAL TEÓRICO

DEVER, Mark. Discipulado: Como ajudar outras pessoas a seguir Jesus. São Paulo: Vida Nova, 2016, p.44-45.

BEEKE, Joel R. O Evangelho para os Filhos da Aliança. São Paulo: Os Puritanos, [2009], p.53-59.

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