terça-feira, 20 de setembro de 2022

“A guerra de palavras é, no fundo, uma guerra por soberania” (Paul Tripp)

 

Vivemos dias em que a comunicação está cada vez pior, seja nas esferas da família, da sociedade ou do estado. Estamos nos defendendo, acusando, culpando outros, manipulando, racionalizando, argumentando, bajulando, suplicando, implorando, ameaçando e usando linguagem apelativa (forte carga emocional), tudo com o propósito de obter o controle sobre as pessoas ou situações. Estamos deixando de confiar na soberania de Deus sobre as circunstâncias e situações, e tentando ser Deus, ou seja, estamos batalhando contra Deus para obter o controle sobre as pessoas e situações.

Quando culpamos as pessoas e as circunstâncias por nossos problemas, estamos acusando e responsabilizando Deus de forma sutil (Gn 3:12). Em circunstâncias difíceis ficamos mais dispostos a atribuir culpa do que a buscar soluções. Os cristãos nunca devem usar as palavras, o maior dom de Deus para a comunicação, para destruir uns aos outros.

Fazer ataques pessoais para tentar desqualificar uma pessoa é um erro, e não resolve o problema. Por exemplo, o Profeta Daniel, quando soube que seria morto juntamente com os outros sábios do rei Nabucodonosor por não terem conseguido interpretar seu sonho, “decidiu atacar o problema” e não o rei, ou seja, ao invés de reunir um grupo de amigos e convocar pessoas para um movimento onde ficariam culpando, murmurando e desqualificando o rei por sua sentença rigorosa contra suas vidas, ele simplesmente agiu de forma prudente, com tato, procurou saber qual era o problema e foi até a presença do rei para ouvi-lo, e logo em seguida foi orar com seus amigos para pedir sabedoria a Deus sobre aquele problema. Como consequência, Deus foi misericordioso para com sua vida, e lhe concedeu capacidade de interpretar o sonho do rei (Dn 2).

Ao invés de desperdiçar energias em palavras que destroem outras pessoas, nossas palavras devem edificá-las (Ef 4:29). Quando são dirigidas para o problema, em vez de serem dirigidas contra a pessoa, as palavras edificarão, ajudando-a a resolver seu problema. Em vez de atacar as pessoas com palavras o cristão deve dirigir todo a sua energia, inclusive suas palavras para o verdadeiro problema (Ef 6:12), enfrentando-o com a solução ensinada por Deus. “Com palavras ataque os problemas e não as pessoas” (Jay Adams).

Alguns exemplos de comunicação deficiente:

1. Linguagem apelativa: Em nossos dias é muito comum vermos pessoas se utilizarem de uma linguagem apelativa quando querem atacar um ponto de vista contrário ao seu. Esse tipo de linguagem costuma utilizar argumentos que zombam daqueles que pensam de forma contrária apelando a emoção

Por exemplo, quando o apóstolo Paulo escreveu para Filemom, ele fez um apelo gentil em favor de um escravo fugitivo chamado Onésimo. Paulo estava consciente de sua autoridade apostólica, e mesmo assim ele preferiu fazer seu pedido de modo diferente, ao invés de ordenar, ele baseou seu pedido no amor cristão (Fm 8,9)

Líderes intransigentes (intolerantes) e autoritários contradizem o que o Senhor diz de dar a si mesmo. Alguns líderes quando são desafiados costumam dizer as seguintes frases: “Eu sou o diretor desta escola, e aprendi a vencer intimidando os alunos, pais, professores e funcionários”; “Eu sou pai (ou mãe) e o que digo é lei”; “Eu sou o pastor dessa igreja, se me desafiar, você vai se arrepender”. Quando somos chamados para liderar, devemos fazer isso seguindo o modelo de Cristo (Mc 10:42-44). 

2. Transferência de culpa: Uma pessoa que diz: “Eu seria mais ativo nos ministérios da igreja ou no ministério do lar, se não tivesse de trabalhar tão duro para pagar as contas” está na verdade dizendo: “Deus, a culpa é sua. Se você fosse melhor em prover minhas necessidades, eu poderia servi-lo do jeito que realmente desejo”. O Deus que deveria ser amado, obedecido e servido tem se tornado o bode expiatório para os nossos pecados (Gn 3:12).

Vejamos agora algumas tentativas verbais de um pai tentando assumir o controle de seus filhos pelo orgulho:

3. Culpa: “Pense em todo dinheiro que investimos em você, é esse o agradecimento que recebemos? ”.

4. Manipulação: “Lembra daquele brinquedo que você me pediu de aniversário, se você fizer ______, talvez possa acordar e encontrar ele ao lado da cama”.

5. Ameaça: “Você vai me respeitar, ainda que seja a última coisa que eu faça”.

Este inventário abaixo lhe dará uma ideia de como você se comunica com as pessoas. Da primeira vez faça a prova sozinho, depois peça ao seu cônjuge ou alguém mais próximo que avalie você.

a)      Eu costumo interromper quando alguém está falando comigo?

b)      Eu não presto a devida atenção quando alguém está falando comigo?

c)     Eu julgo motivações? (Devemos julgar somente fatos concretos, evite fazer suposições)

d)     Eu pareço estar desinteressado ou indisposto quando converso com alguém?

e)      Eu faço generalizações quando com outras pessoas? (Exemplo: “você nunca me escuta!” Evite palavras como: “sempre, nunca, somente”, mas, tente usar frases como: “você tende a”, ou “eu acho que tenho observado um padrão”, ou “você parece lutar habitualmente com”.

f)       Eu transfiro a culpa e responsabilizo as pessoas?

g)      Eu não peço perdão?

h)      Eu desenterro coisas do passado sobre coisas que prometi esquecer?

i)        Eu repreendo severamente?

j)        Eu humilho as pessoas?

k)      Eu sou áspero no meu modo de falar com as pessoas?

l)        Eu não faço todo esforço para resolver conflitos?

m)    Eu não procuro ajuda?

O cristão precisa compreender que ele nunca estará em uma situação, localização ou relacionamento no qual Deus não esteja governando. O cristão deve confiar na soberania de Deus sobre as circunstâncias e relacionamentos, pois Deus tem um propósito em nossos problemas e pressões que estamos passando, que é a nossa santificação.

O universo de ser visto da perspectiva do céu, ou seja, de onde todas as coisas são governadas pelo Senhor em seu trono (Ap 4). Todas as notícias que vemos em jornais, revistas, internet e rádios, são reportagens e manchetes em termos de causas secundárias, ou seja, tudo está sendo controlado pela vontade de Deus, nada escapa do seu domínio. O trono é o centro do universo. Isso não significa que o homem não seja responsável pelo modo como ele vive e governa sobre a terra, pois ele prestará contas a Deus.

Lembre-se, a “guerra de palavras” é uma guerra por soberania, é uma tentativa de ser Deus, para se obter o controle sobre as pessoas e situações. Você está lutando com Deus ou batalhando contra Deus?

 

 

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