terça-feira, 27 de setembro de 2022

A ira e o ressentimento são um disfarce para o medo e um meio de procrastinar nossas responsabilidades como a misericórdia e o perdão

 

A ira diz: “Você está errado, eu estou certo”. A ira é um disfarce para o medo (Ed Welch). Quando lemos o livro do profeta Jonas, vemos ali que o maior medo de Jonas era que Deus concedesse o perdão ao inimigo mais odiado de Israel antes da Babilônia, ou seja, a Assíria. Quando o livro de Jonas foi redigido, essa cidade era símbolo de crueldade, de violência e de hostilidade contra o povo de Deus.

 O medo e o desejo são dois lados de uma mesma moeda, por exemplo, se uma pessoa deseja dinheiro, terá medo da pobreza. Se ela almeja ser aceita, ficará aterrorizada com a rejeição. Se uma pessoa teme a dor e o sofrimento, terá desejo por conforto e prazer. Se ela deseja ser superior, terá medo de ser inferior aos outros. No caso de Jonas vemos que o conforto era algo que ele desejava e se alegrava muito (Jn 4:6), isso significa que o medo da dor e o sofrimento eram também algo que ele temia. Este também por ter sido outro motivo de sua fuga para Társis ao invés de ir para Nínive como Deus ordenou (Jn 1:3).

 A ira é a maneira que muitas pessoas lidam com o medo para poder obter o controle sobre as pessoas e as circunstâncias. Muitas vezes deixamos de cumprir nossas responsabilidades porque na preguiça nos tornamos escravos do nosso conforto pessoal. O medo faz com que pensemos no futuro de modo pessimista, por isso ficamos escravizados em um futuro terrível, fugindo de nossas responsabilidades. Muitas vezes deixamos de cumprir nossas responsabilidades porque as coisas não aconteceram do jeito que nós esperávamos e a ira diz que esta é maneira de encontrarmos controle neste mundo. A ira está conectada com o nosso ressentimento que diz que “eu não aceito e não perdoo que as coisas não tenham saído do meu jeito.

 Jonas quando estava no pior dos lugares, nas profundezas do mar, dentro do ventre de um peixe, fez uma linda oração ao Senhor (Jn 2). Mas, quando estava no melhor lugar, vendo uma cidade inteira se arrependendo e se prostrando perante Deus ele fez a pior das orações (Jn 3 – 4). Sua segunda oração veio de um coração cheio de raiva (Jn 4:1-5). Em sua primeira oração ele clamou a Deus por socorro, mas sua segunda oração pediu para Deus lhe tirar a vida! Jonas preferia morrer do que ter que ver o que não queria. Ele não queria ver a salvação dos seus inimigos.

 Na esfera política, o candidato que toca nos nossos medos é o que vence. O direitista toca na ameaça do comunismo, o esquerdista toca na ameaça da “democracia” e por aí vai. Esses dias foi publicado um vídeo de um direitista dizendo que iria deixar de entregar marmitex para uma família pobre porque a família havia dito que iria votar em um candidato de esquerda. Se ajudamos somente pessoas que compartilham da mesma opinião política, ou se passamos tempo somente com pessoas que são da mesma idade, que gostam do mesmo tipo de música e que compartilham de nosso gosto e preferências, em que somos diferentes do mundo (Mt 5:43-48)? Que amor é este? Falhamos em atender ao mandado bíblico de ser tudo para com todos, porque preferimos adotar somente a primeira expressão sem a segunda (1Co 9:22). Queremos ser tudo somente para um determinado grupo de pessoas que gostamos.

 “Misericórdia quero e não holocaustos” disse Jesus! (Mt 9:13). O oposto de um espírito de medo é um espírito de amor. “No amor não existe medo” (1Jo 4:18). “O adversário do temor é o amor. O amor dá de si mesmo, o temor é autoprotetor. O amor se automovimenta em direção a outras pessoas; o temor as evita. No trato com o temor, nenhuma coisa possui poder tão expulsivo como o amor” (Jay Adams).

 Jonas era um ótimo teólogo, mas um péssimo missionário. Ele conhecia os atributos de Deus, e sabia que o Senhor era “Deus clemente, misericordioso, tardio em irar-se, grande em benignidade e que arrepende do mal” (Jn 4:2). Ele sabia que se anunciasse o julgamento a cidade de Nínive e aquele povo viesse a se arrepender, Deus os perdoaria, e foi o que aconteceu.

 Jonas com seu patriotismo egoísta, considerava a Assíria apenas como um inimigo a ser destruído, e não como um grupo de pecadores que precisavam se arrepender e serem conduzidos ao Senhor. Os judeus queriam a destruição dos seus inimigos, e quando soubessem que Jonas havia sido instrumento de Deus para salvação de uma nação estrangeira e inimiga, ficariam irados com ele, pois o considerariam como um traidor da política externa dos judeus.

 No Antigo Testamento, Israel não enviava missionários para evangelizar as nações. Quem quisesse conhecer a Deus tinha que vir até Israel. Somente o profeta Jonas foi enviado para Nínive, com o objetivo de mostrar que Israel não era tão bom assim, ou seja, não eram misericordiosos e não concediam perdão.

 Talvez você esteja sentado confortavelmente como Jonas (Jn 4:5) olhando de longe para aqueles que você deseja o juízo de Deus. Talvez você tenha desfrutado da misericórdia e do perdão de Deus, mas não tem sido misericordioso para com eles que ofenderam você. Não adianta procrastinar sua responsabilidade por causa da sua preguiça e medo, e por causa de sua ira e ressentimento, as coisas não vão acontecer do jeito que você quer, mas conforme a vontade de Deus. Tem algo que você precisa fazer que ainda está fugindo (procrastinando)? Vá e acerte!

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