sábado, 21 de outubro de 2023

A insatisfação do coração inquieto!

 

1.Conhecimento

Salomão passou um bom tempo investigando a questão do conhecimento (Ec 1:12-18). Ele tentou de todas as formas satisfazer o coração com o saber, mas viu que, em última instância, isto não trazia o que ele buscava. Para piorar ele percebeu que aumentar conhecimento aumentava a tristeza.

No começo do seu reinado Salomão pede a Deus um “coração compreensivo para julgar o povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal” e Deus responde dizendo que ele receberia um “coração sábio e inteligente” (1Rs 3:5-13). Salomão tinha um conhecimento enciclopédico de tudo que existe. Era um conhecimento invejável, impressionante e admirável.

Porém, embora a busca por conhecimento fosse excitante, é também enfadonha por causa do pecado. Pensar dói (Ec 1:18). O aprendizado traz consigo muitas dores. Quem não viveria mais tranquilo se não soubesse nada sobre a corrupção que acontece em nosso país? Viveríamos muito mais tranquilos e em paz se não fizéssemos ideia dos casos de pedofilia, tráfico de drogas, guerras e outras crueldades. Talvez viveríamos mais felizes na ignorância.

Muitas pessoas depositam sua esperança no seu desempenho acadêmico. Há muitas pessoas com mestrado, com doutorado que não entendem nada. São pedantes que se acham muito. Outros exaltam aqueles que não estudaram, mas que “conhecem a vida como ninguém”.

Quem conhece a vida, não são os livros. Tampouco aquele que zomba do conhecimento acadêmico se orgulhando do seu conhecimento prático da vida real. Tanto este como aquele, conhecimento acadêmico e conhecimento das “ruas” se tornam em ídolo no coração.

“Não seja sábio aos próprios olhos” (Pv 3:7). O conhecimento não muda o mundo (Ec 1:15). Se mudasse já estaríamos vivendo um “novo céu” e uma “nova terra”. “Somos o sal que retarda o apodrecimento moral, não a medicina que cura a sociedade enferma” (Heber Campos Jr.). “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9:10). Conhecimento tem valor sim, desde que venha em seguida ao temor do Senhor.

Os cristãos não deveriam rejeitar o conhecimento, pois é algo que Deus criou. Aliás, a ciência faz parte do Mandato cultural de Deus e é uma vocação legítima e honrada diante de Deus. Muitos cientistas estão fazendo o que Deus criou para fazer, mas boa parte deles o fazem em rebelião a Deus.

Leia Colossenses 1 e 2. Cristo é a sabedoria de Deus. Nele estão escondidos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Nele tudo subsiste. Ele é a imagem do Deus invisível. Nele foram criadas todas as coisas, tudo foi criado por meio dele e para ele.

Se Cristo é a sabedoria de Deus (Pv 8:35-36) então aquele que se recusa a se dobrar perante Cristo, peca contra a sabedoria. Somente Jesus pode endireitar o mundo (Ec 1:15), pois a humanidade é culpada de rebelião diante de Deus.

 

2. Prazer, diversão e beleza (Música, sexo e vinho)

Salomão decide então conduzir mais um experimento: investigar se, quem sabe, no prazer, na diversão e na beleza ele conseguiria encontrar o que buscava. Ele decide que irá preencher seu tempo com alegria, com riso, com entretenimento; assim, quem sabe, encontra sentido na vida.

Ele chega à conclusão de que o riso e alegria são vaidade (Ec 2:1-2). Esta risada estava só mascarando o que está por detrás da alegria. Então ele começa algumas tentativas de encher seu coração de algo que não seja Deus.

A primeira tentativa é sobre o vinho (Ec 2:3). Muitos tentam achar no álcool a solução para a inquietação do coração. O vinho em si não é o problema, até porque a Bíblia não condena o vinho e sim a embriaguez. Fazer uso do vinho de maneira correta é legítimo, proibido é se embebedar.

Salomão degustou os melhores vinhos. Porém, ele percebeu que beber e comer as mais finas iguarias não resolviam o problema. Talvez estejamos degustando café gourmet, cervejas artesanais, hambúrgueres nos melhores restaurantes e isso tudo não tem resolvido nosso problema.

Depois da bebida, Salomão procurou no sexo esta satisfação que lhe faltava (Ec 2:8-10). Teve uma multidão de mulheres: 700 esposas, princesas e 300 concubinas (1Rs 11:3). Talvez você esteja fazendo uso da pornografia todos os dias para satisfazer seu coração, ou tendo relações sexuais com várias pessoas.

Salomão também buscou beleza e satisfação na música. Ele trouxe para o palácio diversos músicos (Ec 2:8). Algo caríssimo naquele tempo, em que não havia aparelhos para gravar e reproduzir música. Ele tinha música no palácio frequentemente.

A música, o sexo e o vinho não são coisas perversas em si mesma. São coisas boas que Deus criou e nos deu. Deus criou diversão neste mundo. “O problema não é a diversão nem as coisas boas da vida, mas como buscamos encontrar nelas o sentido da vida” (Emílio Garofalo).

E como Salomão, podemos ficar tentando variar a fonte de diversão ou aumentar a dosagem, seja do álcool, seja a dosagem e a variedade do sexo, da comida, do videogame, dos esportes, do sono etc. Isto é perigoso e um risco porque deixamos de perceber o fato de que há um grande vazio que precisa ser preenchido tentando ocupar a mente para fingir que o buraco não existe.

 

3. Criar algo grande

Salomão buscou satisfação no conhecimento, na diversão e agora ele busca satisfazer seu coração com grandes obras e grandes projetos (Ec 2:4-11). Tudo se concentra nele, pois a expressão “para mim” aparece várias vezes neste texto.

Ele realizou grandes obras, construiu grandes casas, plantou vinhas, fez açudes, bosques, encheu sua casa de servos. Seu nome se tornou grande, adquiriu ouro, servos etc. Salomão criou para si um paraíso na terra, e tentamos fazer isso também.

Em nossos dias muitos querem ter a casa dos sonhos, um corpo espetacular, barriga de tanquinho, pernas esculpidas, uma carreira monumental, um nome admirado e temido, uma família exemplar etc. Para outros pode ser uma casinha simples na roça com um quintal, varanda e uma janela para ver o sol nascer. Muitos são os projetos.

Para muitos o grande projeto é fazer algo que mude o mundo inteiro, marcar a história, fazer manifestações etc. Até mesmo na igreja muitos projetos são idólatras, como plantar uma igreja com o objetivo de marcar a história da cidade simplesmente para encontrar satisfação pessoal. Muitos lutam pelo avanço do reino de Deus com o coração torto.

Salomão chegou à conclusão de que suas construções, e seu envolvimento com a agricultura e pecuária era tudo vaidade e correr atrás do vento (Ec 2:11). Assim como ele, somos facilmente enganados. Achamos que, se encontrarmos coisas belas e cheias de vida, tapearemos o vazio que insiste em aparecer.

 

4. Encontrando sentido na vida

Jesus conta uma história em Lucas 15:11-32 que um pai tinha dois filhos, e um deles pediu herança mais cedo e foi viver prodigamente. Com muito dinheiro, ele buscou encontrar satisfação experimentando o prazer que a vida supostamente lhe apresentaria para preencher seu coração. Depois de um tempo ele caiu em si, e no lamaçal, ele percebeu que não havia vida onde ele estava.

Decidido voltar para casa do Pai ele é graciosamente recebido com uma festa, com verdadeira alegria, com verdadeira vida. Na casa do pai estava o que ele procurava. É assim conosco. Em Deus começamos a encontrar a real satisfação da qual as coisas boas da vida são apenas indícios, pois toda beleza foi criada por Deus para conduzir nossos afetos a ele.

Temos um grande vazio no coração, e procuramos preenchê-lo porque somos rebeldes e caídos. Rejeitamos a Deus por causa do nosso pecado. O vazio vai continuar enquanto continuarmos fingindo que este vazio não existe ou criando algo grande para o seu lugar.

Jesus, o nosso irmão mais velho, não é como o irmão da história do filho pródigo, ele não se ressente de nossa tolice, ao contrário, ele faz o que é necessário para resolver o nosso problema na horrível cruz. Nele não havia beleza alguma como nos diz Isaías 53:2. Ele pagou o preço do nosso pecado e assim nos libertou para encontrarmos sentido onde realmente há. Nele há felicidade e satisfação.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

NETO, Emílio Garofalo. Isto é filtro solar: Eclesiastes e a vida debaixo do sol. Brasília: Monergismo, 2020.

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