quarta-feira, 8 de junho de 2022

Estrutura vs. Direção: Reforma não é revolução

Cada instituição precisa de renovação interna e reforma estrutural. As instituições sociais são criadas e ordenadas por Deus (Família, Igreja e Estado). Por exemplo, dizer que política é do diabo por causa dos seus líderes corruptos é o mesmo que dizer que família e igreja são instituições malignas quando um marido trai a esposa, quando um pai abusa de um filho, ou quando a igreja é conivente com o pecado. “O que foi formado na criação tem sido historicamente deformado pelo pecado e deve ser reformado em Cristo”. O cristão precisa amadurecer e discernir o que é estrutura e direção.

A estrutura é a “essência” de algo criado por Deus, percebida através de nossas experiências em todos os lugares e a direção refere-se ao desvio pecaminoso das coisas criadas por Deus, as quais anseiam pela redenção e renovação somente em Cristo. A família, a igreja, a sexualidade, os pensamentos, as emoções e o trabalho, são coisas estruturais (criadas por Deus) e que estão envolvidas num jogo de poder entre a atração do pecado e da graça. Existe uma batalha direcional dessas áreas da criação.

É importante salientar que o cristão maduro não fala em revolucionar uma estrutura criada por Deus e sim reformá-la. Reforma significa santificação. Santificar significa “libertar do pecado, limpar da corrupção moral, purificar”. A reforma acontece através de uma renovação progressiva em vez de destruição violenta, pois se assim fosse, tudo o que foi afetado pelo pecado deveria ser destruído para se começar do zero. A palavra Revolução é caracterizada pelos seguintes aspectos: 1) Violência necessária; 2) Remoção completa de cada aspecto do sistema estabelecido; 3) Construção de uma ordem social totalmente diferente de acordo com um ideal teórico.

O princípio bíblico de “reforma” se opõe a cada um desses três pontos. A reforma enfatiza a necessidade de evitar a violência, tanto no sentido ordinário de arrancar com força física ou psicológica quanto no sentido histórico de arrancar e deslocar a estrutura social.  

O juízo de Deus acontece, conforme mostrado nos livros proféticos, somente quando a lei se afrouxa, a justiça nunca se manifesta e o perverso oprimi sobre o justo (Hc 1:4) por causa dos tribunais corruptos dentro de um país, aí sim Deus levanta outra nação para disciplinar este povo com juízo severo (Hc 1:5,6), e assim será no juízo final. O poder da espada (Rm 13) é dado somente para os magistrados civis, a igreja não tem essa autoridade. O emblema da igreja é a Cruz, ao contrário do Islamismo, que tanto a religião quanto o estado têm o poder da espada.

O “evangelho não é um programa social (abolição da escravatura), não defende revolução de instituições (1Co 7:17-24), mas propõe mudanças internas à estrutura social, um novo espírito que causaria tremendo impacto”. (Heber Campos Jr) O evangelho não transforma a sociedade sem primeiro transformar pessoas. Não há transformação de sociedade à parte da transformação das pessoas. O evangelho não veio para mudar estruturas, mas transformar pessoas de forma sobrenatural, para que elas venham influenciar estruturas sociais através de uma perspectiva mais profunda, isto é, mudança de cosmovisão, pois mesmo que estruturas sociais sejam modificadas para o bem das pessoas, o coração humano procurará outros meios de oprimir as pessoas.

“Não importa o quanto a nova vida em Jesus Cristo possa ser dramática, ela não busca destruir a estrutura de uma dada situação histórica. Em segundo lugar – e isso é particularmente importante -, ela reconhece que nenhuma ordem social estabelecida é absolutamente corrupta; assim, nenhuma ordem social precisa ser totalmente condenada. E, em terceiro lugar, ela não coloca a sua confiança em planos e concepções da sociedade ideal alcançada por especulação científica ou pseudocientífica. Em vez disso, ela toma a sua situação histórica como ponto de partida, atenta à determinação apostólica: “julgais todas as coisas, retende o que é bom” (1 Ts 5:21)” (Albert M. Wolters).

 

REFERENCIAL TEÓRICO

CAMPOS JÚNIOR, Heber Carlos de. Amando a Deus no Mundo: Por uma Cosmovisão Reformada. São José dos Campos: Fiel, 2019.

SPROUL, R.C. What Is the Relationship between Church and State? North Mankato: Corporate Graphics, 2014. 

WOLTERS, Albert M. A Criação Restaurada: Base Bíblica para uma cosmovisão restaurada. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

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